Chamada: dossiê temático “Saúde Mental e Educação: debates e desafios contemporâneos que se impõe ao setor educação e seus atores”.

2023-11-22

O Corpo Editorial da Plurais – Revista Multidisciplinar, convida pesquisadores e pesquisadoras a submeterem artigos para o dossiê temático “Saúde Mental e Educação: debates e desafios contemporâneos que se impõe ao setor educação e seus atores”.

O dossiê é organizado pelas Profas. Dra. Rosângela da Luz Matos – UESB/UNEB, Dra. Deise Juliana Francisco – UFAL.

A data para início de submissão é 21/11 a 20/12 Publicação em: Junho de 2024

 

A proposição do dossiê justifica-se, em parte, no cenário atual de saúde mental de jovens e adultos que, conforme especialistas, no Brasil, mostra-se como uma segunda epidemia considerando-se o pós Covid19. Números do Datasus (2022)[1] apontam que o total de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil.  Conforme a Organização Mundial de Saúde (2021)[2], estima-se que 10% a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental. E, metade de todas as condições de saúde mental, são registradas aos 14 anos de idade, em sua maioria não detectadas e tratadas. Qualidade de vida, relações familiares e com os pares, violências e necessidades socioeconômicas são alguns dos determinantes sociais a serem observados para a produção de saúde mental entre jovens estudantes. Além desses há estigmas, discriminação dos que fazem parte de minorias étnicas, sexuais ou que vivenciam a gravidez e a paternidade no período escolar.

De outra parte, quando se fala da população adulta trabalhadora, dados anteriores à pandemia apontavam episódios depressivos como a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, correspondendo a 30,67% do total, seguida de outros transtornos ansiosos (17,9%) (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2022). O que as pesquisas mostram é que são diversos os contextos que produzem adoecimento psíquico e um dos principais refere-se ao ambiente laboral. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (2022) o trabalho pode ser gerador de múltiplos adoecimentos, uma vez que amplifica questões sociais mais amplas que afetam negativamente a saúde mental, incluindo discriminação e desigualdades. Dados produzidos em 2019, pela OMS, mostrou que 15 % dos adultos em idade ativa sofreram algum tipo de transtorno mental no ambiente laboral (OMS, 2019).

O objetivo do dossiê ao tomar o tema da Saúde Mental e Educação é retomar o debate proposto na Carta de Otawa[3], marco referência para as ações de promoção em saúde voltadas para coletivos de indivíduos e ambientes (social, físico, natural ou construído). Em especial toma-se os princípios de criação de ambientes favoráveis à saúde, reforço da capacidade de ação de indivíduos e comunidades e o desenvolvimento de habilidades pessoais como alvos para a ação de promover saúde mental nos ambientes educacionais.

A escolha pela promoção à saúde deriva, também, das reflexões propostas por Almeida Filho (2011) em torno do conceito de promoção à saúde e seus desdobramentos em práticas de cuidado afirmativas, voltadas para práticas coletivas que ofertem um espaço de acolhida e construção de laços sociais significativos para que os sujeitos possam desenvolver habilidades para lidar com situações difíceis ou adversidades, além de garantir acesso a informações, a bens culturais e a liberdade de expressão. Para Almeida Filho (2011, p. 119) a saúde constituí objeto complexo e plural que tem potencial no campo geral de promoção da saúde para contribuir “... para a redução do sofrimento causado por problemas de saúde na comunidade”.

Neste contexto nos interessa dar visibilidade para pesquisas e práticas extensionistas que tenham o tema da saúde mental e a educação como objeto de seu fazer na relação com estudantes, professores e gestores no ensino fundamental e superior. 

Por fim, gostaríamos de dizer que a proposta desse dossiê tem inspirações, ao menos, em dois intelectuais que tomaram a experiência da educação formal como chave de produção de um outro mundo possível para o presente e o futuro de cada humano. Albert Camus, na obra O Primeiro Homem (1994), nos oferece um texto autobiográfico sobre sua vida escolar[4] e seu papel definidor para aquilo que sua voz literária viria a ser para cada um de nós e para a cultura do séc. XX. Hannah Arendt, no texto A Crise na Educação (1990) [5], nos diz que a responsabilidade central das instituições educacionais e seus profissionais está em introduzir as novas gerações em mundo historicamente construído e partilhado. Nas palavras da Arendt, cabe aos adultos cuidar dos recém-chegados ao mundo e do mundo, para que crianças, adolescentes e jovens vivam em um mundo onde possam criá-lo, de formas as quais não poderíamos ser capazes de prever.

Esperamos contar com a presença de muitas vozes para este debate crítico que o presente nos impõe, a saúde mental no contexto da educação.

 

[1] Datasus. Violência Interpessoal/Autoprovocada – Ministério da Saúde, Brasil. 2022. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinannet/cnv/violebr.def 

[2] Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatório de Saúde Mental de Jovens. 2021. Disponível em:  https://www.unicef.org/brazil/saude-mental-de-adolescentes

[3] Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf

[4] CAMUS, Albert. 6 bis – A escola. In: O Primeiro Homem. 3ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 123 – 157.

[5] ARENDT, Hannah. A Crise na Educação. In:  Entre o Passado e o Futuro. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1990. p. 221 – 247.