Da afonia à voz das crianças nas pesquisas: uma compreensão crítica do conceito de voz

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n15.p970-986

Resumo

A investigação com crianças é um campo em desenvolvimento que tem contribuído para enfrentar a invisibilidade das crianças quer como objetos quer como sujeitos de pesquisa, trazendo-as para o centro, a partir do argumento de que o seu estatuto de sujeitos ativos de direitos e de atores sociais exige um comprometimento metodológico e ético que respeite essa sua condição. A consolidação da ideia de que as crianças são consideradas sujeitos legítimos do conhecimento (authoritative knowers) requer da parte dos adultos investigadores um comprometimento ético apurado que convoque de forma respeitosa as vozes das crianças, sem as deixar invisibilizadas na voz do adulto que as interpreta. Neste texto, mobilizaremos questionamentos sobre o conceito de voz e reflexões acerca dos contextos nos quais essas vozes são produzidas. De que modo são consideradas as relações de poder que as influenciam? De que modo são consideradas as alteridades de adultos e crianças na produção dessas vozes? A resposta a essas questões tentará situar o conceito de voz no campo das complexidades que atravessam a pesquisa com crianças, trazendo para o centro do debate a relação adulto-criança como uma dimensão estruturante das opções metodológicas e análises interpretativas decorrentes dessas escolhas. 

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ASHBY, Christine. Whose voice is it anyway? Giving voice and qualitative research involving that type to communicate, Disability Studies Quarterly, Vol. 31, nº 4, 2011 Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/297657463_Whose_Voice_is_it_Anyway_Giving_Voice_and_Qualitative_Research_Involving_Individuals_that_Type_to_Communicate. Acesso em 20 jun / 2020

CASTRO, Tereza da Conceição & Ramos, Rui Manoel do Nascimento Lima. Estereótipos sociais na voz das crianças: uma análise de livros escolares do Ensino Básico português. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 44, p. 1-16, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022018000100455&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 22 jun/2020

CHARLOT, Bernard. A mistificação pedagógica - Realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2014.

CHRISTENSEN, Pia & James, Allison. Research with children: perspectives and practices. London: Falmer Press, 2000.

CORSARO, William. A Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

CRUDDAS, Leora. Engaged voices—dialogic interaction and the construction of shared social meanings, Educational Action Research, 15:3, 479-488, 2007. Disponivel em: DOI: 10.1080/09650790701514937. Acesso em: 01 jun/2020

DANELON, Márcio. A infância capturada: escola, governo e disciplina. In: Resende, Haroldo de. Michel Foucault: o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

DENZIN, Norman & LINCOLN, Yvonna (ed.). Handbook of Qualitative Research. Sage, Thousand Oaks, 2000

FACCA, Danica; GLADSTONE, Brenda; TEACHMAN, Gail. Working the Limits of “Giving Voice” to Children: A Critical Conceptual Review. International Journal of Qualitative Methods, Volume 19: 1–10, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1609406920933391. Acesso em: 02 jun/2020

FERNANDES, Natália. Infância, direitos e participação. Representações, Práticas e Poderes. Porto: Edições Afrontamento, 2009.

FERNANDES, Natália & MARCHI, Rita. A participação das crianças nas pesquisas: nuances a partir da etnografia e na investigação participativa. Revista Brasileira de Educação v. 25 e250024, 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782020250024. Acesso em: 25 jun/2020

FERREIRA, M. “A gente aqui o que gosta mais é de brincar com os outros meninos!” – As crianças como actores sociais e a (re)organização social do grupo de pares no quotidiano de um jardim de infância. Dissertação de Doutoramento em Ciências da Educação. Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, 2002.

FERREIRA, Manoela. “ Ela é a nossa prisioneira!” Questões teóricas, epistemológicas e ético- metodológicas a propósito dos processos de obtenção da permissão das crianças pequenas numa pesquisa etnográfica. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 2, p. 151-182, jul./dez. 2010. https://doi.org/10.17058/rea.v18i2.1524. Acesso em 15 mai/2020

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2010

GALLACHER, Lesley-Anne & GALLAGHER, Michael. Methodological immaturity in childhood research: thinking through “participatory methods”. Childhood, Thousand Oaks, v. 15, n. 4, p. 499-516, 2008. https://doi.org/10.1177/0907568208091672. Acesso em: 01 mai/2020

HUTCHBY, Ian. & MORAN-ELLIS, Jo. (eds.). Children and Social Competence: Arenas of Action. London: Falmer Press, 1998

HYMES, Dell. Ethnography, linguistics, narrative inequality: Towards an understanding of voice, London: Taylor and Francis, 1996

JAMES, Allison. Giving voice to children’s voices: practices and problems, pitfalls and potencials. American Anthropologist, vol. 109, issue 2, pp. 261-272. June, 2007. Disponível em: DOI: 10.1525/aa.2007.109.2.261. Acesso em: 01 abr/2020

JAMES, Allison. & PROUT, Alan. Constructing and reconstructing childhood: contemporary issues in the sociological study of childhood. London: Falmer Press, 1990.

JAMES, Allison; JENKS, Chris; PROUT, Alan. Theorising childhood. London: Polity, 1998

JENKS, Chris. The sociology of childhood - essential readings. Hampshire: Gregg revivals 1ª publicação 1982, Batsford academic and Ed, 1992.

KELLETT, Mary. Rethinking Children and Research. London: Continuum, 2010.

LEWIS, Ann. Silence in the Context of ‘Child Voice’. Children & Society, volume 24, pp. 14–23, 2010. DOI:10.1111/1099-0860.2008.00200. Disponível em: DOI: 10.1111/j.1099-0860.2008.00200.x. Acesso em 7 abr/2020

LINCOLN, Yvonna & GUBA, Egon. Paradigmatic controversies/contradictions/and emerging confluences. In: DENZIN, Norma; LINCOLN, Yvonna (orgs.). Handbook of qualitative research. 2. ed. London: Sage, 2001. p. 191-215

MALAGUZZI, Loris. História, ideias e filosofia básica. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George. As Cem Linguagens da Criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, p.59-104, 1999.

MAYBIN, Janet. Towards a sociocultural understanding of children’s voice. Language and Education, 27(5) pp. 383–397, 2012. Disponível em : DOI: 10.1080/09500782.2012.704048. Acesso em: 05 mai/2020

OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Cotidianos aprendentes: Nilda Alves, Regina Leite Garcia e as lições nos/dos/com os cotidianos. Momento, v. 25, n. 1, p. 33-49, jan./jun, 2016. Disponível em: https://periodicos.furg.br/momento/article/view/6108. Acesso em: 09 mai/2020

QVORTRUP, J. Childhood as a social phenomenon – an introduction to a series of national reports. Vienna: European Centre for social Welfare Policy and Research, 1991

REY, Fernando González. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade. Os processos de construção da informação. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2005.

SANTANA, J. (2007). Cotidiano, expressões culturais e trajetórias de vida: Uma investigação participativa com crianças em situação de rua. Tese de Doutoramento em Estudos da Criança. Universidade do Minho, Instituto de Educação.

SANTOS, S. Olhares das crianças institucionalizadas sobre os seus direitos. Dissertação de Mestrado em Sociologia da Infância. Universidade do Minho, Instituto de Educação, 2011.

SARMENTO, Manuel Jacinto & MARCHI, Rita de Cássia. Radicalização da infância na segunda modernidade. Para uma Sociologia da Infância crítica, Configurações, Revista do Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho, nº 4: 91-113, 2008. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/36735. Acesso em 05 maio/2020

SARMENTO, M. Sociologia da Infância: correntes, problemáticas e controvérsias. Sociedade e Cultura. Cadernos do Noroeste. Série Sociologia. 13 (2): 145-164, 2000. Disponivel em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=940767. Acesso em 06 mai /2020

SPIVAK, Gayatri. “Can the subaltern speak?” In: NELSON, Cary. & GROSSBERG, Lawrence. Marxism and the interpretation of culture, Edited by:. 271–313. Chicago: University of Illinois Press, 1998.

SPYROUS, Spyros. Researching children’s silences: Exploring the fullness of voice in childhood research. Childhood, Vol. 23(1) 7–21, 2016. Disponível em: DOI: 10.1177/0907568215571618. Acesso em: 04 jun/2020

SPYROU, Spyros. The limits of children’s voices: from authenticity to critical, reflexive representation. Childhood, Thousand Oaks, v. 18, n. 2, p. 151-165, 2011. Disponível em: https://doi. org/10.1177/0907568210387834. Acesso em: 18 fev/2020

TOMÁS, Catarina. Há muitos Mundos no Mundo. Cosmopolitismo, participação e direitos da criança. Porto: Edições Afrontamento, 2011.

WOODHEAD, Martin. Psychosocial Impacts of Child Work: A Framework for Research, Monitoring and Intervention, International Journal of Children’s Rights, vol 12: 321–77, 2004.. Disponivel em: http://oro.open.ac.uk/6774/ Acesso em 19 fev/2020

Downloads

Publicado

2020-10-11

Como Citar

FERNANDES, N.; SOUZA, L. F. Da afonia à voz das crianças nas pesquisas: uma compreensão crítica do conceito de voz. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, [S. l.], v. 5, n. 15, p. 970–986, 2020. DOI: 10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n15.p970-986. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/9015. Acesso em: 24 abr. 2024.