Memórias na velhice e narrativas de si a partir de objetos biográficos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30620/pdi.v11n2.p137

Palavras-chave:

Objeto biográfico, Velhice, Memória, Reminiscência, Psicanálise

Resumo

O objetivo deste estudo foi analisar o papel dos objetos biográficos na velhice, tendo como campo teórico-metodológico o referencial psicanalítico sobre memória, velhice e narrativas de si. Os objetos biográficos são objetos pessoais que acompanham o idoso ao longo de sua trajetória de vida, possuindo um importante valor afetivo e pessoal. Estes objetos configuram-se como testemunhas de experiências subjetivas por acompanharem os indivíduos no processo de constituição de memórias, histórias e identidades individuais e coletivas. A relação entre indivíduo e o objeto biográfico faz-se importante para o envelhecimento, pois permite conectar o idoso com a sua própria história em um momento da vida marcado por diferentes alterações físicas, psíquicas e sociais. A presente investigação caracteriza-se como uma pesquisa de campo de natureza qualitativa. Participaram deste estudo seis idosos, três homens e três mulheres, com idade superior a 60 anos, que apresentaram um ou mais objetos biográficos que fazem parte da sua história de vida. Foram utilizados como instrumentos um questionário sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada. Os dados foram avaliados através da técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2016), adotando as seguintes etapas: (1) préexploração do material; (2) seleção de unidades temáticas relacionadas com o objetivo de analisar a relação entre os idosos, os objetos biográficos e suas memórias; (3) a construção de quatro categorias temáticas: objetos que compõem memórias; os objetos que marcam um tempo nas memórias; os objetos que integram memórias, e os objetos que perpetuam histórias. Os resultados da pesquisa evidenciam que os objetos biográficos têm a importante função de serem mediadores do tempo no resgate e perpetuação das reminiscências. Observou-se que a partir do narrar, o idoso pode integrar o passado com o presente, bem como o desejo de perpetuar histórias permeadas de saberes para gerações futuras. Este movimento permitiu a construção de narrativas que fortaleceram suas memórias e solidificaram as suas identidades pela integração de sua história. Destaca-se ainda que o processo de compor memórias possibilita ao idoso o reconhecimento de sua trajetória de vida, fato que o permite se localizar como sujeito apesar das diferentes marcas atribuídas pelo tempo, tais como mudanças físicas, sociais e vinculares presentes na velhice.

[Recebido em: 29 jul. 2021 – Aceito em: 30 out. 2021]

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Biografia do Autor

Leila Mara Oliveira Nogueira, Universidade São Judas Tadeu - USJT

Psicóloga (CRP-SP 06/175065). Pós Graduanda Lato Sensu em Psicanálise e Saúde pelo Hospital Albert Einstein. Graduada pela Universidade São Judas (USJ); apresentou sua dissertação com o tema “Uma análise dos objetos biográficos na velhice”. Membro do Núcleo de Neuropsicologia do CRP-SP, Subsede Metropolitana (Gestão 2019/2022).

Laura Carmilo Granado, Universidade São Judas Tadeu - USJT

Possui graduação em Psicologia pela Universidade São Francisco (2001), mestrado em Psicologia (Neurociências e Comportamento) pela Universidade de São Paulo (2005) e doutorado em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (2011). Psicóloga clínica, atuando em psicanálise, professora na Universidade São Judas Tadeu e Pesquisadora do Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social – APOIAR (USP). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em clínica, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise; psicoterapia psicanalítica; neurociências e psicanálise; psicopatologia, epigenética e psicoterapia.

Bruna Gabriela Marques, Universidade São Judas Tadeu - USJT

Possui Doutorado, Mestrado (2012), Bacharelado (2009) e Licenciatura (2011) em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu-USJ. Atua como Professora nos Cursos de Graduação e de Mestrado em Educação Física na USJ e pesquisadora do Instituto Anima. Na extensão coordena o Projeto Sênior para a Vida Ativa da USJ. Tem experiência na área de Educação física atuando, principalmente com envelhecimento, saúde pública, educação popular em saúde e Photovoice. Na pós-graduação atua nas linhas: Estudos socioculturais e pedagógicos da Educação Física e Promoção e Prevenção em Saúde. Campos de Orientação: desenvolve estudos referentes à Educação Física, Educação, Envelhecimento e Pesquisas participativas e colaborativas. Docente colaboradora do Programa de Ciências do envelhecimento na linha: Aspectos educacionais, psicológicos e socioculturais do envelhecimento. Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Sênior (GREPES) que discute questões relacionadas a Educação Física para idosos e a Promoção da Saúde, bem como os conceitos de empowerment e autonomia relacionados à prática de atividades físicas.

Rodrigo Jorge Salles, Universidade São Judas Tadeu - USJT

Psicólogo graduado pela Universidade de Uberaba – (UNIUBE, 2009). Foi Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (RIMS). Área de Concentração em Saúde do Idoso, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM, 2010-2012). Mestre e Doutor em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP, 2012-2014; 2014-2018). Pesquisador/Colaborador no Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social – Serviço APOIAR. Docente do curso de Psicologia da Universidade São Judas Tadeu (USJT). Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Envelhecimento da Universidade São Judas Tadeu (USJT). Pesquisador do Instituto Anima.

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Publicado

2021-12-28

Como Citar

NOGUEIRA, L. M. O.; GRANADO, L. C.; MARQUES, B. G.; SALLES, R. J. Memórias na velhice e narrativas de si a partir de objetos biográficos. Pontos de Interrogação – Revista de Crítica Cultural, Alagoinhas-BA: Laboratório de Edição Fábrica de Letras - UNEB, v. 11, n. 2, p. 137–161, 2021. DOI: 10.30620/pdi.v11n2.p137. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/pontosdeint/article/view/14387. Acesso em: 28 mar. 2024.