Maria Aparecida Crissi Knuppel, Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra e Luiz Alberto Rocha De Lira
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DOI: https://doi.org/10.29378/plurais.2447-9373.2021.v6.n3.13237
NOVAS TENDÊNCIAS E DESAFIOS PARA EDUCAÇÃO
A DISTÂNCIA: a parceria das universidades
estaduais e o sistema UAB
Maria Aparecida Crissi Knuppel 1
Universidade Estadual do Centro-Oeste
https://orcid.org/0000-0002-0853-6833
Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra 2
Universidade Estadual do Maranhão
https://orcid.org/0000-0003-1622-5434
Luiz Alberto Rocha De Lira 3
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior /MEC
https://orcid.org/0000-0001-8719-700X
RESUMO
Este trabalho avalia as tendências e desaos da educação a distância objetivando identicar as rever-
berações nas universidades e no Sistema Universidade Aberta do Brasil/UAB, que são impulsionados
por ações em favor de processos educativos disruptivos e inovadores, alternativas importantes em ações
em rede de forma colaborativa. Aponta projetos a serem realizados pelas universidades estaduais, em
parceria com o Ministério da Educação, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior, Capes, para elevar a qualidade e a equidade da educação superior pública do Brasil. Evi-
dencia muitos desaos a serem enfrentados em termos de formação para oferecer novas oportunidades
de aprendizado nesta sociedade digital, hiperconectada. A educação a distância compartilha os desaos
mais amplos que o Brasil enfrenta, tem papel preponderante na recuperação do país e se recongura
em perspectivas relevantes e ao mesmo tempo híbridas nos processos de ensino e de aprendizagem.
Destaca-se a necessidade de ampliação dos conteúdos abertos para o desenvolvimento educacional, por
meio de um projeto nacional de Adoção de Recursos Educacionais Abertos/REAs, com apoio da Capes,
para desenvolver um ecossistema em um ambiente sustentável, com conteúdo atualizado, num modelo
de colaboração que fortaleça a democratização do conhecimento. O estudo aponta urgência de gestão
de cursos de educação digital em rede a serem realizados em por universidades pertencentes ao Sistema
UAB. Abre-se ainda a possibilidade de constituição de redes, para creditação e acreditação de estudos.
Ressalta-se a formação de consórcios para a oferta da mobilidade virtual discente nacional e internacio-
nal, a partir do que já é desenvolvido pelas universidades estaduais, por meio da Câmara de Educação a
Distância da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Municipais e Estaduais/ABRUEM.
Palavras Chave: Educação Digital. Sistema UAB. Universidades Estaduais. Educação em Rede.
Recursos Educacionais Abertos.
1 Doutora em Educação (UEM). Professora Adjunta da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNI-
CENTRO). Grupo de Estudos em Educação a Distância e Tecnologias Digitais (GEEaD). Grupo Multidisciplinar
em Metodologias, Tecnologias e Design para EaD. Brasil.
2 Doutora em Fitopatologia (UFRPE). Professora Adjunta da Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA). Professora permanente do Programa de Mestrado em Educação Inclusiva - PROFEI - Grupo de Pesquisa
em Educação a Distância e Tecnologias Digitais. Brasil.
3 Doutor em Educação (UNIMEP). Analista em Ciência e Tecnologia do Quadro Permanente da Capes/
MEC. Pesquisador e consultor na área de Educação, Ciência e Tecnologia.Brasil.
Novas tendências e desaos para educação a distância: a parceria das universidades estaduais e o
sistema UABa
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NEW TRENDS AND CHALLENGES FOR DISTANCE EDUCATION: the
partnership of state universities and the UAB System
ABSTRACT
This work evaluates the trends and challenges of distance education in order to identify the reverbera-
tions in universities and in the Open University of Brazil/UAB System, which are guide by actions in
favor of disruptive and innovative educational processes, important alternatives in collaborative net-
work actions. Indicates projects to be developed by state universities, in partnership with the Ministry of
Education, through Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel, Capes, to raise
the quality and equity of public higher education in Brazil. Evidence shows many challenges to be faced
in terms of training to offer new learning opportunities in this digital society, hyperconnected. Distance
education shares the challenges facing of Brazil, and plays a major role in the country’s recovery and
is recongured in relevant perspectives and at the same time hybrid in teaching and learning process-
es. The need to expand open content for educational development is highlighted, through a national
Open Educational Resources/ OER adoption project, with support from Capes, to develop an ecosystem
in a sustainable environment, with updated content, in a collaboration model that strengthens the democ-
ratization of knowledge. It points to the urgency of managing digital education courses networked to be
carried out in universities belonging to the UAB System. The study points out the urgency of managing
networked digital education courses to be carried out by universities belonging to the UAB System. It
is emphasized the formation of consortia for the provision of virtual mobility national and international
student, from what is already developed by state universities, through the distance education chamber of
Asociación Brasileña de Decanos de Universidades Municipales y Estatales/ABRUEM.
Keywords: Digital education. UAB system. State universities. Networked education. Open educational
resources.
NUEVAS TENDENCIAS Y RETOS PARA LA EDUCACIÓN A DISTAN-
CIA: la colaboración de las universidades estatales y el Sistema UAB
RESUMEN:
Este trabajo evalúa las tendencias y desafíos de la educación a distancia con el n de identicar las re-
verberaciones en las universidades y en el Sistema Universidad Abierta de Brasil/ UAB, las cuales están
guiadas por acciones a favor de procesos educativos disruptivos e innovadores, alternativas importantes
en las acciones colaborativas en red. Indica proyectos a ser desarrollados por universidades estatales, en
alianza con el Ministerio de Educación, a través de Coordinación para el Perfeccionamiento del Perso-
nal de Educación Superior, Capes, para elevar la calidad y equidad de la educación superior pública en
Brasil. La evidencia muestra muchos retos a afrontar en materia de formación para ofrecer nuevas opor-
tunidades de aprendizaje en esta sociedad digital, hiperconectada. La educación a distancia comparte los
desafíos que enfrenta Brasil, juega un papel importante en la recuperación del país y se recongura en
perspectivas relevantes y al mismo tiempo híbrida en los procesos de enseñanza y aprendizaje. Se des-
taca la necesidad de expandir contenidos abiertos para el desarrollo educativo, a través de un proyecto
nacional de Adopción de Recursos Educativos Abiertos/REA, con el apoyo de Capes, para desarrollar
un ecosistema en un ambiente sustentable, con contenido actualizado, en un modelo de colaboración
que fortalezca la democratización del conocimiento. Señala la urgencia de gestionar los cursos de edu-
cación digital en red para que se realicen en las universidades pertenecientes al Sistema UAB. El estudio
destaca la urgencia de gestionar los cursos de educación digital en red que deben realizar las universi-
dades pertenecientes al Sistema UAB. Se destaca la conformación de los consorcios para la provisión
de movilidad virtual estudiantil nacional e internacional, a partir de lo que ya está desarrollado por las
universidades estatales, a través de la cámara de educación a distancia, de la Asociación Brasileña de
Decanos de Universidades Municipales y Estatales/ ABRUEM.
Palabras clave: Educación Digital. Sistema UAB. Universidades Estatales. Educación en Red. Recursos
educativos abiertos.
Maria Aparecida Crissi Knuppel, Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra e Luiz Alberto Rocha De Lira
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Introdução
A pandemia COVID-19 trouxe uma série de desaos e preocupações, requerendo, no
âmbito da educação, um esforço signicativo de todos professores, estudantes, gestores e
familiares – para que os processos de ensino e de aprendizagem, na maioria das universidades
e escolas de educação básica não cessassem.
Esta crise sanitária adiantou a instigação que se antevia para o ensino superior, relativo
à transformação digital, ao se considerar por exemplo a presença das melhores práticas inventivas
em termos de educação a distância, educação digital em rede.
A pandemia apresentou, de forma mais rápida do que o previsto, a educação em terri-
tórios diferenciados, no hibridismo do presencial e do virtual e abre o debate sobre a educação
a distância, inicialmente confundida com educação on-line e com o que se pratica como ensino
remoto emergencial e que também repensa procedimentos, cursos, metodologias, tecnologias e
gestão pedagógica e administrativa.
As universidades, há tempo já estudam a evolução tecnológica, sabem dos meandros da
sociedade em rede, impulsionados pelos recursos de comunicação que geram outras abordagens no
ensino e na aprendizagem. Mas, mesmo ocorrendo, em muitas universidades, o ensino presencial
mediado por tecnologias e programas de educação a distância, não se imaginava que tão rápida
e intensamente a educação digital chegaria em um momento assaz dramático para a sociedade.
Milhões de estudantes nas universidades e nas escolas foram afastados do espaço físico
das unidades escolares, dos corredores, laboratórios, salas de aulas, das atividades presenciais
nos polos de educação a distância, dos estágios, o que não signicou suspensão das atividades
pedagógicas, mas exigiu adaptações, que surgiram na chamada realidade on-line.
Contudo, essa transição, ainda em movimento, por ser realizada abruptamente, demandou
muitas superações. As escolas e universidades tomaram atitudes rápidas, carecendo da formação
necessária para tal, sem um percurso estabelecido. Não houve o planejamento e as capacitações
adequadas em relação às questões didáticas e pedagógicas, na gestão administrativa, acadêmica
ou de infraestrutura tecnológica. Este processo exigiu posicionamentos, formas diferenciadas
de gestão tanto para a modalidade presencial como para a educação a distância que, em tese, já
praticava a educação híbrida no cogendramento sistêmico do presencial e da distância em sua
organização, mas que teve interrompida a atuação em polos de educação a distância de atividades
presenciais, entre outras mudanças estabelecidas.
É fundamental que a sociedade avance ainda mais para uma educação digital em rede,
numa perspectiva híbrida, de maior convergência entre realidades biológicas e físicas com rea-
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lidades digitais e virtuais, o que requer outras formas de gestão nas universidades. O panorama
atual mostra que é viável fazer o engendramento entre aprendizagem on-line, colaborativa e
híbrida, com o desenvolvimento de tecnologia educacional para o ensino superior e para a
educação básica, com metodologias ativas e modelos híbridos de educação. O uso intensivo
das tecnologias, como forças ambientais na construção de abordagens de aprendizagem con-
textualizadas e signicativas, possibilita a formação dos estudantes de modo mais próximo da
vivência cotidiana.
No sentido apontado, destacam-se algumas questões, propulsoras para o debate nos ce-
nários de transformação digital e para se repensar os processos educacionais e que pautam, em
alguma medida a reexão aqui proposta: qual o papel da educação na sociedade tecnológica?
Como os avanços tecnológicos impactaram, impactam e modicarão os processos de ensino
e de aprendizagem, em especial na modalidade de educação a distância? Quais os caminhos
necessários para a realização de uma educação em rede, na modalidade de educação a distância,
que se realize em ecossistemas educacionais, nos quais a colaboração seja essencial? Como a
gestão das universidades acompanha os processos de transformação nas ações de ensino e de
aprendizagem e nos formatos dos cursos a distância? As respostas para estas perguntas e tantas
outras são diversas, abertas e complexas e exigem pesquisas na área de transformação digital,
gestão da educação a distância, como política pública que auxilie a pensar a união entre pro-
cessos administrativos, tecnológicos, pedagógicos, espacialidades e seres humanos, em uma
sociedade reticular.
Os elementos motivadores para a análise dos dados que subsidiam esta pesquisa são: a)
o cenário da questão sanitária e os impactos nas universidades brasileiras, na educação básica e
no desenvolvimento regional; b) a modalidade de educação a distância pública no Brasil e seus
desaos; c) a importância da denição estratégica do Governo Federal para o fortalecimento de
qualicação das ofertas na modalidade, incluindo o Sistema da Universidade Aberta do Brasil
(UAB); d) a necessidade de criação de redes de cooperação.
Frente a esse cenário e aos desaos colocados para a sociedade, e com foco especial
no impacto para as universidades, este texto especica novas tendências e possibilidade para a
educação a distância colocadas para as universidades e para o Sistema UAB, para impulsionar
ações em favor de processos educativos disruptivos e inovadores, alternativas viáveis e impor-
tantes e a formação de professores, colaborativos e em redes,
A Educação a Distância (EaD), no Brasil, guarda uma responsabilidade importante
quanto à formação de pessoas. Nesse sentido, diminuir a desigualdade educacional, exige uma
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postura diferenciada das universidades, um olhar para dentro da estrutura das IES e, ao mesmo
tempo, um processo de cooperação fortalecido com o Governo Federal, com a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com a educação básica, com as em-
presas, com a sociedade civil organizada, na oferta da educação superior de qualidade e com
ampla abrangência, para auxiliar a retomada do crescimento da economia brasileira e atender
reivindicações sociais e de empregabilidade, o que justica os apontamentos do texto.
Esta pesquisa prospecta projetos a serem realizados pelas universidades estaduais em
parceria com o Ministério da Educação, para elevar a qualidade e a equidade da educação su-
perior pública do Brasil, para atender às demandas advindas da pandemia COVID -19 e para o
fortalecimento da educação a distância como política pública.
O Sistema Universidade Aberta do Brasil, um ecossistema educacional: o
papel das universidades estaduais
bases teóricas que amparam a política pública governamental sobre educação a
distância, que atua de forma descentralizada em trabalhos de indução e fomento, por meio do
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Neste contexto, as parcerias com as universidades
estaduais assumem papel relevante, haja vista a diversidade de fatores de gestão vinculados à
capacidade de atuações no interior do país.
Por meio Decreto 5.800, de 8 de junho de 2006, foi instituída a política pública que
criou o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), marcando uma atitude responsável, pru-
dente em função das lacunas e carências reconhecidas e ainda persistentes na educação básica,
evidenciando que o desenvolvimento de um país requer investimento na formação dos profes-
sores. “Art. 1º, parágrafo Único, inciso I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de
formação inicial e continuada de professores da educação básica [...].
O Sistema UAB objetiva contribuir para a Política Nacional de Formação de Professores
do Ministério da Educação. É, portanto, um programa que investe na ampliação e interioriza-
ção da oferta de cursos e programas de educação superior, por meio da educação a distância.
A prioridade centra-se na formação inicial de professores em efetivo exercício na educação
básica pública, sem graduação. Prevê, ainda, a formação continuada dos professores que têm
graduação, de dirigentes, gestores e outros prossionais da educação básica, da rede pública.
Os empreendimentos das universidades materializam-se nas parcerias com a Diretoria de
Educação a Distância da Capes e com o poder público municipal, por meio dos polos de apoio
presencial, de cursos na modalidade de educação a distância.
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Um dos caminhos para o avanço do ensino superior passa pela educação a distância
e pela educação digital. Assim, é fundamental que as estratégias acadêmicas e de gestão das
universidades estejam alinhadas à política pública e subsidiadas com linhas de nanciamento
sustentáveis.
Sobre os aspectos da gestão organizacional para oferta de cursos na modalidade educa-
cional a distância, autores como Mill et al. (2010) identicam evidências do campo das teorias
de gestão clássica, vinculadas aos postulados da administração cientíca, principalmente quanto
ao planejamento, direção, controle e organização frente aos problemas estruturais, num contexto
de escassez de recursos.
Para Lenzi (2010) a gestão dos sistemas de ensino, sejam presenciais ou a distância
objetiva “[...]coordenar, orientar, executar e acompanhar as atividades para atingir objetivos
estabelecidos. (2010, p. 47),” desde o planejamento até o encerramento do projeto de um cur-
so. Para Moore e Kearsley (2007), o desenvolvimento de um sistema de educação a distância
deve ser estruturado a partir de algumas condições: prospecção das necessidades dos alunos,
prospecção de fontes de conteúdo, formulação de um projeto instrucional, formas de entrega do
conteúdo, formas de interação e da criação de ambientes de aprendizagem.
Embora ainda haja grandes desaos em relação à superação cultural remanescente no
contexto acadêmico, é impossível armar a existência de impedimentos metodológicos à mo-
dalidade, compreendendo-se que
A Educação a Distância, como uma possibilidade pedagógica, requer das ins-
tituições educacionais que alterem signicativamente sua rotina de trabalho:
políticas e procedimentos de inscrição de alunos em disciplinas, horários das
aulas, procedimentos de avaliação e presença nas atividades de ensino. Apre-
senta-se, na esfera pedagógica, como mais uma opção metodológica que, por
sua relevância e características próprias (distintas das identicadas na educa-
ção presencial), impõe a necessidade de novas aprendizagens, possibilitan-
do inovação nos procedimentos de ensino, o que merece especial atenção.
(BRASIL, 2008, p.2).
Sob tal aspecto e considerando o Brasil um país continental com 5.570 municípios, é
importante uma ação política descentralizada, como é o caso do Sistema UAB.
As reformas educacionais, surgidas a partir da década de 1990 ressaltam a importância
de que as instituições criem e inovem na gestão educacional, sobremaneira quando modelos
de gestão sustentados na economia neoliberal são revistos, pois o que está claro é que o velho
paradigma econômico está desgastado e a gestão na educação a distância se reveste de movi-
mentos que exigem outras posturas em termos de política pública, de nanciamento e de gestão.
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Segundo Ibáñez, a educação à distância é uma das tendências mais vigorosas e inovadoras
para o século XXI, aliada ao desenvolvimento de tecnologias aplicadas à educação e:
No Brasil, esse crescimento também é evidente e o desenvolvimento de novas
tecnologias de informação e comunicação contribui para essa disseminação.
Hoje o que percebemos é uma educação a distância de qualidade e para muitas
pessoas a única chance de ter acesso ao conhecimento, assim como uma alter-
nativa para regiões cujo incentivo governamental nem sempre são sucientes,
resumidamente podemos concluir que a EAD aos poucos está modicando o
cenário educacional brasileiro, conquistando vitórias e mudanças positivas
em todo o meio social. (IBANEZ,1998, p.20),
Portanto, a descentralização da gestão educacional, quer seja no ensino básico ou su-
perior, é uma estratégia para a maior eciência e ecácia de resultados. Para tal, os órgãos e as
agências de fomento em ciência e tecnologia, como é o caso da Capes, na condução da política
nacional de educação a distância por meio da UAB, precisam oferecer alternativas de melhoria
e alcance de resultados e potencializar os escassos recursos aplicados.
No campo das políticas públicas que ocorrem por indução, o fortalecimento das ações do
governo central para a expansão do ensino superior, por meio da Capes, requer a colaboração do
sistema estadual, que atua por meio de convênios. Esse formato visa fortalecer a interiorização
do ensino superior, que na visão de Ferreira (2010), começou nos anos 1950, de forma tímida,
e só ganhou maior fôlego na década de 1990.
A interiorização do ensino superior também é reforçada em outro diploma legal do gover-
no federal e é um repto que integra o atual Plano Nacional de Educação do decênio 2014-2024,
Lei nº 13.005/14 de 25 de junho de 2014. Na Meta 12, o PNE xa os percentuais de matrículas
de graduação a serem atingidos até o término do decênio:
[...] elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquen-
ta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população
de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e
expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas,
no segmento público. (BRASIL, 2014).
As universidades estaduais, por meio do Sistema UAB, têm um papel essencial, que a
forma de gestão consubstanciada nos planos diretores das universidades envolve a interiorização
de procedimentos, o que converge para o alcance da meta 12 do PNE, por meio de esforços
conjugados entre a união, estados e municípios.
Atualmente o sistema UAB congrega 131 Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES)
incluindo Universidades Federais, Estaduais e Institutos Federais. Dessas, 30 são universidades
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estaduais, sendo três da Região Centro-Oeste, treze da Região Nordeste, três da Região Norte,
quatro da Região Sudeste e sete da Região Sul.
Os dados do Sistema UAB (SisUAB) registram que as universidades estaduais são respon-
sáveis por um percentual relevante da formação inicial e continuada de professores, atendendo
ao Plano Nacional de Educação.
Em pontos percentuais, as instituições estaduais respondem por aproximadamente 28%
das ofertas da UAB, tendo, em 2021, 155 ofertas de cursos que beneciaram 40.821 alunos.
Esses números são responsáveis, em grande medida, pela interiorização das ofertas EAD nas
universidades estaduais e municipais, em parceria com os polos EaD.
No trabalho integrado entre universidades, Capes e municípios, conforme Relatório Téc-
nico (ABRUEM, 2021), as universidades estaduais já ofereceram 238.876 vagas nos diferentes
editais (Edital nº 02/2013, edital nº 75/2014, edital nº 22/2015 e edital nº 05/2018).
O maior número de vagas foi disponibilizado para a Região Nordeste (41%), seguida da
Região Sul (33%) e as três outras regiões somaram 26% das vagas. Estes números alinham-se
às demandas de formação inicial e continuada de professores para educação básica. Segundo
dados do INEP, em 2018, o Brasil ainda contava com 21,6% de professores sem formação em
nível superior. As regiões com maior demanda para formação de professores são as regiões Norte
(26,7%) e Nordeste (33,7%) (INEP, 2019).
Os dados demonstram que as instituições estaduais têm um ativo importante na oferta
dos cursos na modalidade de educação a distância e podem, por meio de projetos inovadores,
consubstanciadas em políticas públicas, ampliar a formação para educação básica e outras for-
mações necessárias para os novos cenários formativos colocados para a retomada do crescimento
econômico no país e para a diminuição das desigualdades sociais.
Contudo, o Censo 2019, publicado em outubro de 2020, aponta que o número de ma-
trículas em cursos de graduação presencial diminuiu 5,2% entre 2018 e 2019 e a modalidade
de educação a distância variou positivamente 45,0%, no mesmo período. Entre 2009 e 2019,
as matrículas de cursos de graduação a distância aumentaram 479%, enquanto na modalidade
presencial o crescimento foi apenas de 118%. Entretanto, em 2019, a matrícula, na rede pública,
cresceu 0,1% e, na rede privada, 2,4%. A rede privada concentrava 75,8% das matrículas de edu-
cação superior de graduação. Do total de vagas ofertadas em 2019, não diferenciando o tipo de
instituição de ensino, tem-se que 57% das ofertas são de bacharelado, 20% são de licenciaturas
e 23% são de cursos superiores tecnológicos (INEP, 2020).
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Mesmo com esta disparidade de oferta entre as universidades particulares e as univer-
sidades estaduais, a educação superior pública, na modalidade, permitiu que indivíduos mais
vulneráveis fossem atendidos e esta expansão foi fundamental para o desenvolvimento econô-
mico, social e educacional do país.
Em relação às licenciaturas, ainda de acordo com o INEP (2020), as matrículas registradas
em 2019 estavam concentradas na modalidade EaD (53,3%) e desde o ano de 2018, o número
de alunos que frequentam cursos a distância (816.888) é maior do que o número de alunos dos
cursos presenciais (811.788). A mudança de modalidade na formação dos professores brasileiros
que atuam na educação básica teve início em 2014 e se deve às políticas implementadas via
Sistema UAB.
A modalidade EaD dispõe de pedagogias que contribuem efetivamente para uma recon-
guração do processo educativo no ensino superior, pois a sua proposição chama para a prática do
exercício efetivo de pedagogias que promovam a capacidade de resolver problemas, a interação
com pessoas de diferentes regiões do país, diferentes modelos educacionais e a organização de
redes de colaboração.
Tendências da educação superior: desaos para educação a distância
A educação superior acontece em contextos sociais especícos e no caso da educação
a distância na interação entre atores sociais, em ambientes virtuais de aprendizagem e polos
de educação a distância. Nesses cenários, as experiências de aprendizagem são construídas e
reconstruídas pelos indivíduos em processos de colaboração e interação que passam por ade-
quações e transformações, de acordo com as questões apresentadas.
Para entender o cenário da educação superior brasileira, encontra-se apoio na
última publicação do Relatório Horizon Report (2021) que no sumário executivo destaca:
A pandemia da COVID1-9 transformou o panorama educacional. Embora não
se saiba se estas transformações criaram raízes e persistirão no futuro, não é
difícil imaginar que alguns importantes aspectos da educação superior não
serão os mesmos (livre tradução dos autores). (HORIZON REPORT, 2021,
p.4, tradução nossa).4
O relatório estruturado por pesquisadores de diferentes países traz tendências, diculda-
des, limites, entre outros aspectos importantes, da educação superior no mundo. Um dos tópicos
4 COVID-19 pandemic has transformed the higher education landscape. Though it remains to be seen
whether those transformations have taken root and will persist into the future, it isn’t hard to imagine that higher
education may never be the same in some important ways (good or bad) (HORIZON REPORT, 2021, p.4).
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sistema UABa
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observados enfatiza que as desigualdades educacionais trazidas pela pandemia, caracterizam o
denominado fosso digital:
A pandemia COVID-19 revelou as desigualdades digitais que existem entre
alunos que compartilham os mesmos cursos. Na medida em que o ensino su-
perior no futuro continuará a contar com tecnologias remotas e redes digitais
para a oferta de cursos e experiências de aprendizagem, o fosso só aumentará
entre aqueles com todas as vantagens digitais e outros que lutam para obter
acesso à rede e a dispositivos básicos. Essas lacunas se tornarão evidentes
entre os alunos não apenas ao longo de sua conclusão do ensino superior,
mas, em muitos casos, muito antes de entrarem na faculdade. (HORIZON
REPORT, 2021, p. 07, tradução nossa)5
Os apontamentos trazidos pelo relatório em termos de exclusão digital ativam ainda mais
o papel dos Polos de EaD, com infraestrutura para atender os alunos e pessoas da comunidade e
destacam a importância da formação de pessoas para o mundo digital. Mostram de forma enfática
que as mudanças rápidas que ocorreram em 2020/2021, trouxeram a necessidade de se ter mais
tecnologias digitais para a educação e a adoção generalizada de modelos de ensino e de apren-
dizagem híbridos. Apontaram uma identicação de docentes e alunos com as novas maneiras de
interagir com o auxílio da tecnologia, como uma importante experiência, em favor de modelos
de aprendizagem que permitem movimento exível entre experiências remotas e presenciais.
A tecnologia de aprendizagem deve se tornar ainda amplamente adotada no
futuro. A descoberta de novas necessidades e o uso de outras ferramentas para
este modelo de curso, levará às inovações contínuas e ao desenvolvimento de
tecnologias de aprendizagem totalmente novas. (HORIZON REPORT, 2021,
p. 07, tradução nossa).6
Contudo, a formação de professores para atuar com as tecnologias digitais e para a
compreensão dos pressupostos da educação híbrida exige que os docentes assumam diferentes
formas de trabalhar e adquiram a uência digital. Para tal, investimentos contínuos no desen-
volvimento do corpo docente são essenciais, incluindo acesso à internet, suporte de design e de
5 The COVID-19 pandemic has laid bare the digital inequities that exist between students sharing the same
courses. To the extent that higher education in the future will continue to rely on remote technologies and digital
networks for course delivery and learning experiences, the gap will only widen between those with every digital
advantage and those who struggle to gain access to even the basic devices and network necessities. These gaps
will become evident among students not only over the course of their postsecondary education attainment but, in
many cases, long before they enter college (HORIZON REPORT, 2021, p. 07).
6 Learning technology stands to become even more widely adopted on the road ahead, and the discovery
of new needs and uses for these and other courserelated tools will lead to ongoing innovations and entirely new
learning technologies (HORIZON REPORT, 2021, p. 07).
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tecnologia, para apoiar o corpo docente e alunos, o uso de recursos educacionais abertos (REAs),
como formação para novos estilos de gestão e de liderança centrados na relação com a equipe.
Muitas instituições estão se adaptando ao modelo híbrido, pensando no barateamento
dos custos, não acompanhados por estudos que tragam evidências de sua ecácia no contexto
e não consideram a necessidade da pesquisa acadêmica e da formação adequada de professores
para atuar nos espaços. A educação superior sempre se defrontou com o clima político e os
acontecimentos do momento. Não é de hoje que o emaranhado da política, das tendências do
momento, do nanciamento são forças que moldam a gestão pedagógica e administrativa nas
universidades, prejudicando o ensino, a pesquisa e a extensão.
Soma-se ainda, segundo o relatório, exemplos de universidades que mantêm a tradição
de ensino presencial e consideram o uso de modelos mais exíveis como barateamento e as
tecnologias como ameaças para um ensino de qualidade. Tais instituições se fundamentam no
princípio de fazer mais para um grupo menor e concentram ações em cursos com aplicações
diretas e práticas percebidas para a indústria, para as necessidades do mercado, entre eles: ne-
gócios, ciências, direito, medicina, ciência da computação e economia.
ainda que considerar que muitos alunos praticam formações livres que resolvem a
necessidade de formação imediata, sem a necessidade de estudos regulares, os denominados
microcréditos e trazem para o debate o papel das universidades, que grandes empresas de tec-
nologia e de outras áreas ofertam cursos que responder às necessidades dos alunos no momento
que procuram inserção no mercado e, ao mesmo tempo, às expectativas do próprio mercado de
trabalho (SERRA, et al. 2021).
Por uma educação a distância em rede
Nas seções anteriores observa-se grandes desaos e preocupações para a educação su-
perior, que se colocam globalmente, fruto dos avanços tecnológicos e sociais que criaram uma
sociedade em rede, mudando totalmente as bases da cultura e da economia contemporânea.
Castells, na obra A era da informação (2002), evidencia os cinco pressupostos da socie-
dade em rede, defendidos por ele: a informação, a exibilização da produção, a lógica reticular,
a difusão e a convergência das tecnologias digitais de comunicação. Nesta teia social, uma
centralidade do ator social na interação com as tecnologias e relação com os meios informacio-
nais, como fundamentais no processo de transformação social e política, num círculo virtuoso.
Para Di Felice (2013) as redes pensadas por Manuel Castells são:
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[...] expressões de um novo social expandido, no qual as informações são
disseminadas pelos atores sociais em conito entre si e cuja ação encontra sua
difusão na mesma estrutura comunicativa. Na sua visão, a sociedade em rede
caracteriza-se como uma sociedade englobante na qual os atores, suas ações,
o poder e as instituições encontram nas redes sua disseminação e redeni-
ção social. Em outras palavras, a sociedade em rede é um sistema social que
possui atores, instituições que se comunicam entre si disseminando funções,
desejos, esperanças e objetivos exclusivamente humanos. (DI FELICE, 2013,
p. 49-50).
Pensar a educação em rede, como um ecossistema é considerá-la a chave-mestra para o
desenvolvimento social, individual e coletivo. Portanto, impõe-se ao Estado a universalização do
acesso aos mais diversos níveis de formação, realidade que será conquistada com a participação
de todos, em sistemas colaborativos e em rede, sob a perspectiva de uma política nacional para e
educação superior que considere a relação entre educação presencial e a distância, que certamente
terá efeitos na construção de novos ambientes de aprendizagem em todos os níveis de educação.
Nas últimas décadas, vários esforços foram efetivados para garantir maior organicidade
entre as políticas, os programas e as ações direcionadas à formação de pessoas e, no caso do
Sistema UAB, à formação de professores. Mesmo com várias legislações e documentos aprova-
dos e que deram origem a diversos programas e projetos do Governo Federal, as necessidades
são inúmeras, tanto em termos quantitativos de pessoas que necessitam de formação, como em
processos qualitativos a serem desenvolvidos e que assegurem a formação ampla e sólida para
os prossionais de diferentes áreas do conhecimento.
No sentido apontado, as universidades estaduais, pela capilaridade existente, pela dinâmica
das atuações que chegam a lugares mais afastados dos centros universitários, atendem e podem
continuar atendendo, qualitativamente pessoas, sobremaneira aquelas que querem autonomia no
processo de construção de saberes cientícos e nos saberes produzidos no cotidiano.
Os programas de educação digital propostos pelo governo, voltados de maneira acentu-
ada à formação de professores da educação básica e à responsabilidade social para formação de
jovens e adultos que veem na formação inicial e continuada auxiliares para conquistar oportu-
nidades de estudos, de pesquisa e de trabalho, são um projeto nacional da educação brasileira.
Para tanto requer ações como: 1) a necessidade de ampliação da oferta de cursos de educação
superior para a população; 2) a questão tempo e espaço que se reconguram em uma educação
digital aberta; 3) a oportunidade de acesso e de permanência na universidade; 4) a possibilidade
do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação como uma força ambiental que muda a
forma do relacionamento consigo mesmo, com os outros e com a própria realidade; 5) a qua-
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lidade dos cursos ofertados na modalidade de educação a distância pelas instituições federais,
estaduais e municipais.
Neste sentido, as universidades reivindicam participação em projetos de interesse nacional
relativos à educação a distância, em parceria com outras universidades públicas, em constituição
de ações em rede. Para tal, requerem participação em discussões e debates que promovam novos
arranjos educacionais que considerem a educação digital em rede e a educação a distância, que
privilegiem a formação de professores, a formação continuada, a formação inicial em cursos de
bacharelado e cursos superiores de tecnologia não contemplados pelo Sistema UAB. Entendem
que o desenvolvimento de um trabalho acadêmico para a formação de pessoas passa, obriga-
toriamente, por essa modalidade de educação, numa perspectiva de democratização do saber.
No rastro desses fundamentos, acredita-se, também, que o Sistema UAB precisa ser
induzido à continuidade, de maneira responsável e sustentável, a exemplo do que é mantido
pela Capes, gerenciado com muita experiência, tecnicidade e que hoje é indutora de sucesso
da modalidade a distância e cuja competência a credencia para a continuidade como gestora
operacional do sistema.
Frente ao exposto, releva a importância da parceria das universidades estaduais com o
Sistema UAB e ações a serem desenvolvidas, que fortalecem a política pública de interiorização
do ensino superior, do aumento de acesso da população a cursos que auxiliam na formação de
pessoas, para novos cenários de trabalho.
Redes de colaboração
A construção de redes de colaboração entre as universidades é imprescindível para o forta-
lecimento dos processos educacionais e fundamental para que aconteçam avanços ainda maiores
em cursos combinados ou híbridos, em múltiplos modelos de curso. Por exemplo, a aplicação
de um amplo programa com foco no desenvolvimento econômico das regiões, considerando a
necessidade de retomada do crescimento e a oferta de oportunidades para pessoas que não têm
formação e atuam na informalidade. O programa, executado em redes de colaboração com a
participação das universidades e institutos federais, ofertado por meio de cursos de bacharelado
ou superior de tecnologia, cursos de curta duração ou executivos, ofertados de forma híbrida
auxiliam as pessoas a adquirir competências em diversas áreas do conhecimento.
Schlemmer et al. (2020) armam que a natureza e a propriedade do espaço e dos meios
mudam, o que exige conhecimento das potencialidades e limites de cada tecnologia digital. Dessa
forma, os docentes necessitam recongurar as práticas pedagógicas e metodologias. Os pesqui-
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sadores armam ainda que isso exige competências para o desenvolvimento de uma docência de
qualidade e habilidades digitais que permitam desenvolver uência técnico-didático-pedagógica,
o induz a pensar em novas pedagogias, seguir comunicando-se face a face e digitalmente com os
alunos, com as tecnologias móveis equilibrando a interação de todos com todos e com cada um.
Pesquisas apontam que grande parte dos professores precisa de apoio para a inserção na
educação digital e que os estudantes visam a uência digital em tecnologias educacionais.
um gap na relação entre era digital, tecnologias como forças ambientais e educação digital em
rede e a formação dos atores que agem nas instituições de ensino superior.
Neste sentido, o desao para as universidades é grande, mas ao mesmo tempo promissor,
pois indica às instituições exibilizarem os processos de formação e de gestão, gerando outras
oportunidades de atuação cidadã, em prol da ciência, da equidade social e do desenvolvimento
sustentável e de processos de ensino e aprendizagem mais próximos das necessidades sociais e
educacionais. Portanto, uma rede de parcerias que permita a oferta de cursos de educação digital
em rede ajuda muito neste processo, haja vista a extensa parceria que o Sistema UAB tem.
Atinente ao exposto, tem-se ainda, por meio da constituição de uma rede de universi-
dades, a adoção sistemática e organizada de uma política pública, dos repositórios de Recursos
Educacionais Abertos/REAs, que fortalecem o EDUCAPES e outros portais das universidades.
Muitas universidades tinham seus repositórios bem antes da pandemia, mas esta trouxe outras
possibilidades em educação aberta.
Com os conteúdos abertos, um amplo projeto de desenvolvimento educacional que
inclui tecnologias de ponta amplamente acessíveis, por meio de um projeto nacional de adoção
de REAs, com apoio da Capes. Dessa forma, constrói-se um ecossistema com um ambiente
sustentável, com conteúdo atualizado, num modelo de colaboração que torna mais fortalecida a
democratização do conhecimento, auxilia na formação de pessoas, no desenvolvimento econô-
mico e minimiza o fosso digital, para a equidade social.
Nesse sentido, entende-se que os Recursos Educacionais Abertos são muito mais abran-
gentes do que os materiais didáticos impressos. E têm um relevante papel na inclusão educativa e
social, auxiliando no letramento digital, cooperando na aprendizagem dos estudantes em cursos,
promovendo muitas oportunidades para que os docentes melhorem as estratégias de ensino.
Na perspectiva da constituição de redes, para creditação e acreditação de estudos, ressalta-
-se a formação de consórcios para a oferta da mobilidade virtual discente nacional e internacional,
a partir do que é desenvolvido pelas universidades estaduais, por meio da câmara EaD da
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ABRUEM, com o objetivo de recuperar a defasagem no aprendizado dos estudantes em tempos de
pandemia, possibilitar enriquecimento curricular e acelerar os processos formativos, entre outros.
Considerações Finais
O cenário advindo da COVID-19, no início de 2020, mudou drasticamente a forma
como se estrutura a gestão e o ensino nas universidades, requerida pelas múltiplas mudanças e
transformações no seio da sociedade como um todo. O que era possibilidades impôs-se como
necessidades.
Em uma arquitetura ecossistêmica que se processa no entrecruzamento da Web 2.0, da
Internet das Coisas (IoT) e da Internet dos Dados (Big Data), que trazem à tona o conceito de
Internet of Everything (IoE), emerge a questão primordial do signicado do ser humano numa
época hiperconectada e em constante transformação. A transformação digital leva cada vez
mais à digitalização de todas as superfícies e ao desenvolvimento de um mundo bit, ressaltando
a necessidade de um ecossistema conectivo que contempla ecologias interativas e complexas,
que muda o modo como as pessoas vivem, interagem, estudam, trabalham e se inserem no
complexo mercado de trabalho. E não como retroceder em relevantes processos iniciados,
que precisam ser ampliados para que as universidades avancem em novos rumos na gestão e
nas práticas pedagógicas.
O fortalecimento do Sistema UAB, por meio de redes de colaboração é essencial para a
inovação no sistema de ensino superior, entendida como a adoção de processos, procedimentos,
novos serviços, tecnologias, competências digitais, entre outros tópicos, com a nalidade de
melhorar os resultados da aprendizagem, reforçar a equidade social, promover ações comparti-
lhadas entre universidades e produzir mais saberes para a sociedade, carente de oportunidades
de trabalho e de formação.
Em uma sociedade hiperconectada, tecnológica e reticular, se concebe a educação
a distância explorando as potencialidades da modalidade inserida na perspectiva da educação
digital. É um processo educacional que acontece nas relações e nas trocas entre os seres hu-
manos, o conhecimento, a tecnologia, os objetos, as coisas, os dados, a realidade física e suas
características.
A situação apontada neste trabalho reforça a importância das IPES estaduais e os resul-
tados cooperam no sentido de descobrir outros direcionamentos, enriquecendo cada vez mais
a modalidade EaD, potencializando a universalização e democratização da educação superior
pública e de qualidade.
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A parceria entre as universidades estaduais justica-se do ponto de vista de viabilidade
econômica, a partir do princípio da eciência da administração pública, da evolução tecnológica
e para a efetivação da gestão pedagógica e administrativa na modalidade de educação a distância,
ao conceber e propor programas, linhas de ações e trabalhos realizados de forma colaborativa.
As universidade estaduais, assim como o sistema federal, têm capacidade instalada,
processos de pesquisa e de ensino ligados à perspectiva de atendimento às grandes demandas
de formação com a qualidade oferecida pelas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas
brasileiras em todo o território nacional, caracterizando-se, portanto, em um sistema associado às
metas e projetos do Ministério da Educação para qualicação de pessoas, quer seja na UAB, na
esfera da Secretaria de Educação Básica ou nas ações da Secretaria de Ensino Superior (SESU),
entre outras secretarias e órgãos de governo.
Os recursos de educação disponíveis para a modalidade de educação a distância, em sua
grande maioria, nas universidades públicas vêm do Programa UAB. Contudo, dada a abrangência
do programa há a necessidade de investimentos para a manutenção do sistema para a atender a
formação de professores e de gestores públicos e ampliar o atendimento às carências regionais,
sobremaneira as observadas por meio dos arranjos produtivos locais, conforme necessidade de-
mandada em cada estado, visando o crescimento econômico, em especial pós pandemia. Neste
cenário, as universidades estaduais que fazem parte da UAB contribuem para a expansão da
modalidade, atingem localidades que outras universidades particulares e mesmo as universidades
federais ainda não chegam, dada a sua capilaridade e força de interiorização das ofertas.
Evidências apontam muitos desaos a serem enfrentados em termos de formação para
oferecer aprendizado nesta sociedade digital, hiperconectada. A educação a distância comparti-
lha os desaos mais amplos que o Brasil enfrenta, tem papel preponderante na recuperação do
país e se recongura em perspectivas relevantes e ao mesmo tempo híbridas nos processos de
ensino e de aprendizagem.
A situação educacional do Brasil exige esforços redobrados e contínuos, com os recursos
necessários, para elevar a qualidade e a equidade do atendimento à formação de pessoas, junta-
mente com medidas imediatas para mitigar os efeitos da crise pandêmica que fomentou a crise
de aprendizagem que já existia na educação brasileira. Para enfrentar o desao, apresentam-se
as universidades, com variedade de iniciativas criativas e com o compromisso com a educação
superior pública e de qualidade. Atende-se, assim, às necessidades nacionais em termos de
ensino superior com vistas a uma política voltada à expansão, à qualicação e à interiorização
preconizada nos documentos e adequando-se às transformações educacionais necessárias a uma
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nova fase da sociedade tecnológica para se constituir em um ecossistema educacional, numa
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Recebido em: 02 de outubro de 2021.
Publicado em: 06 de dezembro de 2021.
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