João de Deus Fonseca Junior e Rita de Cássia Dias Pereira Alves  
JOGOS AFRICANOS E AFRO-  
BRASILEIROS: uma proposta  
sociocultural para o ensino  
JOÃO DE DEUS FONSECA JUNIOR  
Mestre em História da África das Diásporas e dos Povos Indígenas pelo Centro  
de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia  
(UFRB). Linha de Pesquisa: Educação Interétnica. Grupo de Pesquisa, FORCCULT.  
ORCID: 0000-0003-3364-0410. E-mail: joaodedeus22@hotmail.com  
RITA DE CÁSSIA DIAS PEREIRAALVES  
Universidade Federal do Recôncavo (UFRB). Doutora em Educação (UFBA). Professora  
Associado I da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB). Centro de Cultura, Linguagens  
e Tecnologias Aplicadas (CECULT), Santo Amaro - BA. Grupo de Pesquisa, FORCCULT.  
ORCID: 0000-0002-2223-0945. E-mail: rcdias@ufrb.edu.br  
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Jogos africanos e afro-brasileiros: uma proposta sociocultural para o ensino  
JOGOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS: uma proposta sociocultural para o ensino  
O Relato é fruto da pesquisa de mestrado realizada na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB),  
no Centro de Humanidades, Artes e Letras (CAHL) no município de Cachoeira-BA. O estudo apresenta a  
diversidade sociocultural do Recôncavo da Bahia, e suas conexões com outras regiões brasileiras nas quais tem  
a presença maciça das populações negras e afrodescendentes, tendo como objetivo, auxiliar na construção da  
teoria pedagógica dos jogos de origem africana e afro-brasileira, como uma proposta sociocultural, permitindo  
utilizá-los como recurso pedagógico para o ensino. O estudo propõe investigar a relevância das práticas de  
jogos e brincadeiras no processo educacional, de mostrar o valor educativo que poderá ser incorporado às  
atividades escolares. Concluímos que os jogos e as brincadeiras apresentam uma gama de possibilidades para  
prática educacional, estes, sendo utilizados com finalidades pedagógicas, podem gerar conhecimento das mais  
variadas áreas do conhecimento, tornando-se um importante recurso pedagógico para o ensino.  
Palavras-chave: Educação. Sociocultural. Jogos.  
AFRICAN AND AFRO-BRAZILIAN GAMES: a sociocultural proposal for teaching  
The Report is the result of the Master’s research carried out at the Federal University of Recôncavo da Bahia  
(
UFRB), at the Center for Humanities, Arts and Letters (CAHL) in the city of Cachoeira-BA. The study presents  
the sociocultural diversity of the Recôncavo da Bahia, and its connections with other Brazilian regions in which  
there is a massive presence of the black and Afro - descendant populations. With the objective of assisting in  
the construction of the pedagogical theory of games of African and Afro-Brazilian origin, as a sociocultural  
proposal, allowing them to be used as a pedagogical resource for teaching. The study proposes to investigate  
the relevance of the practices of games and games in the educational process, to show the educational value that  
can be incorporated into school activities. We conclude that games and games present a range of possibilities  
for educational practice, which, being used for pedagogical purposes, can generate knowledge from a wide  
variety of areas of knowledge, making it an important pedagogical resource for teaching.  
Keywords: Education. Cultural Partner. Games.  
JUEGOS AFRICANOS Y AFRO-BRASILEÑOS: una propuesta sociocultural para la enseñanza  
La historia es fruta del llevada con la investigación del mestrado en la universidad federal del Recôncavo de  
la Bahía (UFRB), en el centro de la humanidad, de los artes y de Letras (CAHL) en la ciudad de la cascada.  
El estudio presenta la diversidad sociocultural del Recôncavo de la Bahía, y sus conexiones con otras regiones  
brasileñas en las cuales tenga la presencia masiva de las poblaciones del negro y de los afrodescendentes,  
teniendo como objetivo, asistir a la construcción de la teoría pedagógica de los juegos del origen africano  
y afro-Brasileño, como oferta sociocultural, permitiendo para utilizarlos como recurso pedagógico para la  
educación. El estudio que considera para investigar la importancia de práctico de juegos y de los trucos en  
el proceso educativo, para demostrar el valor educativo que podría ser incorporados referente a actividades  
de la escuela. Concluimos que los juegos y los trucos presentan una gamma de las posibilidades de educativo  
práctico, éstos, siendo utilizado con propósitos pedagógicos, podemos generar el conocimiento de las áreas más  
variadas del conocimiento, haciendo un recurso pedagógico importante para la educación.  
Palabras clave: Educación. Sociocultural. Juegos.  
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João de Deus Fonseca Junior e Rita de Cássia Dias Pereira Alves  
JOGOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS:  
uma proposta sociocultural para o ensino  
Introdução  
O estudo apresenta a diversidade sociocultural do Recôncavo da Bahia, e suas conexões com  
outras regiões brasileiras nas quais tem a presença maciça das populações negras e afrodescendentes.  
Este artigo é fruto da pesquisa de mestrado realizada na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia  
(UFRB), no Centro de Humanidades, Artes e Letras (CAHL) no município de Cachoeira-BA. O  
estudo tem como objetivo, auxiliar na construção da teoria pedagógica dos jogos de origem africana  
e afro-brasileira, como uma proposta sociocultural, permitindo utilizá-los como recurso pedagógico  
para o ensino na escola básica, especificamente no Ensino Fundamental dos Anos Iniciais.  
Desta forma, torna-se necessário refletir em relação à dicotomia entre o jogar e o aprender  
instalada nos ambientes escolares. Atualmente, percebe-se que a utilização dos jogos como proposta  
pedagógica, na maioria das vezes, tem sido tratada de forma secundária. Observamos que esse tipo  
de atividade é utilizado como momentos de relaxamento, descanso e desgaste de energia excedente  
das crianças. Contudo, é sabido que o jogo e a brincadeira são recursos importantes da formação de  
crianças, porém, essa prática permanece dissociada do processo educativo.  
Desta forma, o estudo propõe investigar a relevância das práticas de jogos no processo edu-  
cacional, e de mostrar o valor educativo que poderá ser incorporado às atividades escolares. Assim,  
apresentamos um estudo a partir da pesquisa desenvolvida na área dos jogos de origem africana e  
afro-brasileira, pois, o que presenciamos atualmente nos ambientes educacionais da rede pública de  
ensino, fica restrito à prática de capoeira e maculelê, e geralmente em datas comemorativas, além  
disso, muitas vezes essas intervenções são realizadas por pessoas da comunidade.  
Para aplicar os jogos de origem africana e afro-brasileira, apresentamos a proposta metodo-  
lógica, por meio das Rodas de Saberes e Formação (RSF), no início e no final de cada atividade.  
Por entender que as rodas horizontalizadas propiciam condições para que os participantes possam  
assumir-se como seres históricos, culturais e pensantes. Momento este, utilizado para: apresentação,  
contextualização e avaliação dos jogos, bem como, abordagem dos conteúdos discutidos em cada jogo.  
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Metodologia  
A proposta metodológica apresentada aborda uma pesquisa qualitativa no campo episte-  
mológico, estudo fenomenológico de abordagem multirreferencial, segundo Gil (2008, p. 14): “o  
pesquisador preocupa-se em mostrar e esclarecer o que é dado. Não procura explicar mediante  
leis, nem deduzir com base em princípios, mas considera imediatamente o que está presente na  
consciência dos sujeitos”. Pensamos sob uma perspectiva epistemológica multirreferencial, por  
esta possibilitar a compreensão do fenômeno educativo a partir de uma pluralidade de olhares e  
de linguagens, reconhecidos como necessários à compreensão da complexidade inerente a esse  
processo.  
ParaArdoino (1998), citado por Macedo (2012, p. 118), a abordagem multirreferencial exige,  
[...] uma leitura plural desses processos tanto em sua natureza teórica enquanto  
prática; uma reflexão sob diferentes pontos de vista, o que implica tanto em  
visões específicas quanto linguagens apropriadas às descrições exigidas em  
função mesmo do uso de sistemas de referências distintos, considerados,  
reconhecidos explicitamente como não redutíveis uns aos outros, ou seja,  
heterogêneos.  
Apresentamos também a proposta da educação intercultural, segundo Fleuri (1999, p.280),  
que indica uma situação em que pessoas de culturas diferentes interagem, ou uma atividade que  
requer tal interação. A ênfase na relação intencional entre sujeitos de diferentes culturas constitui  
o traço característico da relação intercultural. O que pressupõe opções e ações deliberadas, parti-  
cularmente no campo da educação.  
Apresentamos como proposta pedagógica a utilização de jogos de origem africana e afro-  
-brasileira, que foram realizados por meio de aplicação dos jogos e das Rodas de Saberes e Formação  
(RSF),por entender que as rodas horizontalizadas propiciam condições para que os participantes  
possam assumir-se como seres históricos, culturais e pensantes.  
Para Jesus e Nascimento (2016,p.113),as Rodas de Saberes e Formação (RSF),  
[...] nos levam a compreender as rodas como uma construção em curso, situada  
historicamente, contextualizada, um patrimônio cultural dos povos, e buscamos  
integrá-las à educação, tomando-as como inspiração para elaboração de um  
dispositivo pedagógico-curricular de formação em contextos culturais.  
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As (RSF) nos remetem à imagem circular, “como nas rodas de samba, de capoeira, de can-  
domblé” (Jesus e Nascimento, 2016, p. 113) e de conversas, e horizontalizada, em que todos podem  
ensinar e contribuir com as experiências científicas, sociais, culturais em um contexto específico de  
formação dos sujeitos. Neste sentido, as (RSF) ocorreram antes e após a execução dos jogos, por  
meio de instrumentos didáticos, como, leitura de textos, exibições de vídeos, mostras de mapas,  
confecções de jogos e brinquedos e diálogos circulares.  
Os Jogos como Ação Cultural e Educativa  
Aqui, discutiremos os jogos como ação cultural e educativa, a intensão é, sobretudo, discu-  
tir o jogo como proposta sociocultural para o ensino. No decorrer deste texto, apresenta-se uma  
questão fundamental sobre o tema exposto: a problemática da diversidade cultural, relacionada aos  
jogos e suas implicações para o ensino. Desta forma, não podemos falar de diversidade cultural e  
não falar de cultura, entretanto, é admissível pensar que o conceito de cultura no singular pode ser  
considerado impróprio tendo em vista as culturas humanas em sua mais ampla variedade. Neste  
sentido, apresentamos o conceito de cultura segundo os pensamentos doAntropólogo Roque Laraia  
(2001, p. 31), afirmando que,  
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos)  
que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos  
biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de  
organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e  
organização política, crenças, práticas religiosas, e assim por diante.  
Para o professor Kabengele Munanga (2015, p.10), a cultura deve ser entendida, não no seu  
sentido estreito que faz dela um sinônimo de apreciação das letras e belas artes, mas em seu sentido  
antropológico como conjunto dos conhecimentos, ideias, objetos que constituem a herança comum  
de uma sociedade. Herança, porque cada membro do grupo recebe através do processo educativo  
esse conjunto que foi constituído pelas gerações anteriores, fazendo-o seu. Herança comum porque  
todos os membros da sociedade participam dela. Neste sentido, vale ressaltar a reflexão historiador  
e antropólogo Anta Diop (2007, p. 308), que apresenta a cultura, especialmente cultura africana:  
Eu considero a cultura um baluarte que protege um povo, uma coletividade.  
A cultura deve acima de tudo desempenhar uma função protetora; ela deve  
assegurar a coesão do grupo. Seguindo esta linha de pensamento a função  
vital do corpo de ciências humanas, é desenvolver este senso de bens coletivos  
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através de um reforço da cultura. Isso pode ser feito desenvolvendo-se o fator  
linguístico, restabelecendo-se a consciência do africano e do negro a ponto de  
fazê-los chegar a um sentimento comum de pertencimento ao mesmo passado  
histórico e cultural. Quando isto for feito, será muito mais difícil “dividir para  
reinar” e opor comunidades africanas umas contra as outras. Meu sentimento é  
o de que este seja o objetivo de um novo corpo de ciências humanas africanas,  
contanto que isso não se afaste do estrito termo científico. Isso é o mais  
importante: jamais se afastar da trilha da ciência.  
Vimos conceitos e entendimentos sobre a cultura de forma geral, bem como a cultura afri-  
cana. Agora buscaremos entender como é vista a cultura no campo da Educação Física. Assim,  
apresento os pensamentos do professor Jocimar Daolio (2004), para quem o termo “cultura” parece,  
definitivamente, fazer parte da educação física, fato impensável há duas décadas; e que sugere, no  
mínimo, que as ciências humanas têm influenciado a área.  
Depois do predomínio das ciências biológicas nas explicações do corpo, da atividade física  
e do esporte por parte da educação física, essa tarefa, hoje, parece estar dividida com os conheci-  
mentos provindos de outras áreas, tais como a antropologia social, a sociologia, a história, a ciência  
política e outras. (DAOLIO, 2004). Para o autor, muitos estudiosos da educação física, tentam  
compreender as manifestações corporais humanas considerando a perspectiva cultural. [...] Ainda  
que os principais autores da educação física no Brasil defendam propostas metodológicas diferen-  
tes, todos se referem à cultura, mais ou menos explicitamente. É possível perceber a utilização da  
expressão “cultura” acompanhada de termos como “física”, “corporal”, “de movimento” e outros.  
Daolio (2004, p. 09), refere-se à cultura e educação física como:  
A “cultura” é o principal conceito para a educação física, porque todas as  
manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os  
primórdios da evolução até hoje, expressando-se diversificadamente e com  
significados próprios no contexto de grupos culturais específicos.  
As concepções de cultura vistas à cima trazem contribuições importantes para a compreen-  
são crítica dos fundamentos das relações interculturais na perspectiva educacional. Desta forma,  
caminharemos pelos caminhos da proposta interculturalista, que segundo Fleuri (2002b, p.407), a  
perspectiva intercultural da educação reconhece o caráter multidimensional e complexo da intera-  
ção entre sujeitos de identidades culturais diferentes e busca desenvolver concepções e estratégias  
educativas que favoreçam o enfrentamento dos conflitos, na direção da superação das estruturas  
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socioculturais geradoras de discriminação, de exclusão ou de sujeição entre grupos sociais. Para Fleuri  
(1999, p. 280), a educação intercultural requer que se trate nas instituições educativas os grupos popu-  
lares não como cidadãos de segunda categoria, mas que se reconheça seu papel ativo na elaboração,  
escolha e atuação das estratégias educativas. Além disso, é preciso repensar as funções, os conteúdos,  
os métodos, o currículo da escola e acima de tudo o processo de formação dos professores de modo a  
se superar o seu caráter monocultural, buscando promover cada vez mais uma educação intercultural.  
O Jogo como Proposta Educativa  
Tendo o jogo como objeto do estudo, sendo esta uma temática da cultura corporal da criança,  
segundo o professor Marcos Neira (2016, p. 18), no ambiente escolar o/ professor/a deve investir numa  
proposta pedagógica intercultural, em que:  
O professor/a deve empregar uma pedagogia em que um bom ensino é aquele que  
considera seriamente a vida dos/as estudantes abrindo espaços para a diversidade  
de etnias, classes sociais e gêneros das populações estudantis. O que se propõe é  
que os/as educadores/as investiguem e recuperem as experiências dos estudantes,  
analisando seus saberes sobre as práticas corporais e as formas com as quais suas  
identidades se inter-relacionam com essas manifestações.  
Seguindo os pensamentos do autor acima citado, entendemos que ao propor um jogo, além de  
pensarmos no conteúdo que queremos ensinar, devemos sobretudo criar estratégias para apresentar  
o jogo a partir das experiências de vida dos estudantes, desta forma o jogo se tornará mais atraente e  
significativo.  
Propondo os jogos como ação educativa, seguimos o pressuposto que a aprendizagem por meio  
do jogo que acontece em um contexto sociocultural, assim, se busca referência na teoria vygotskyana do  
desenvolvimento humano para apreender o sentido que ali é empreendido este conceito. Para Vygotsky  
(2010), o período escolar do desenvolvimento de uma criança tornam-se evidentes vários tipos de dis-  
crepância entre sua atividade — que já é bastante complexa neste estágio do desenvolvimento — e o  
processo de satisfação de suas necessidades vitais. [...] Esta atividade é, portanto caracterizada por uma  
ampla gama de ações que satisfazem necessidades que não se relacionam com seu resultado objetivo.  
Em outras palavras, muitos tipos de atividades nesse período do desenvolvimento possuem  
seus motivos (aquilo que estimula a atividade) em si mesmos, por assim dizer. Quando, por exemplo,  
uma criança constrói com blocos, é claro que ela não age assim porque essa atividade leva a um certo  
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resultado que satisfaz a alguma de suas necessidades; o que a motiva a agir nesse caso aparentemente  
é o conteúdo do processo real da atividade dada. (VYGOTSKY, 2010, p. 119).  
Abordando o jogo, o brinquedo e a brincadeira, para Vygotsky (1991b, p.61-62), defini-los  
como atividade prazerosa para criança, é incorreto por duas razões. Primeiramente, muitas atividades  
dão à criança experiências de prazer muito mais intensas do que o brinquedo, como por exemplo,  
chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie. E, segundo, existem jogos nos quais a própria  
atividade não é agradável. Seguindo o pensamento do referido autor, podemos observar uma partida  
de futebol entre crianças, em que esta atividade se encerra com o placar de 10x0. Essa atividade será  
prazerosa para quem perdeu? Ou podemos pensar numa turma escolar em que o/a professor/a propõe  
uma atividade de pular cordas, essa atividade será prazerosa para uma criança que tenha dificuldade  
motora ou que esteja com grau obesidade elevado e ou por algum motivo não goste praticar essa  
atividade específica, mesmo assim, ser “obrigada” a praticar?  
Para entender o jogo como estratégia metodológica não significa reduzi-lo a um mero instru-  
mento didático, pois o jogo antes de tudo é uma atividade sociocultural secular e praticada por toda  
parte do mundo. Os jogos contribuem para promover o desenvolvimento de estruturas cognitivas,  
psicomotoras, afetivas e morais, criando possibilidades de construção de atitudes necessárias ao  
exercício da autonomia e da cidadania. O filósofo Platão, defendia que “o jogo como um meio de  
aprendizagem é mais prazeroso e significativo, de maneira que, inclusive, os conteúdos das disciplinas  
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poderiam ser assimilados por meio de atividades lúdicas ”.  
Para Lima (2008, p.14), a utilização do jogo e da brincadeira como meio de ensino-aprendizagem  
de conteúdos das diversas áreas do conhecimento, é um importante recurso para o desenvolvimento  
das potencialidades inatas da criança. Ao longo do tempo, foram criados obstáculos com relação ao  
jogo e a brincadeira no processo educativo. Contudo, defendemos que estes podem ser utilizados de  
forma complementar, colaborando na superação da falsa dicotomia entre o jogar e o aprender que se  
instalou na escola. Para o autor,  
A proposta de utilizar de forma complementar o jogo e as tarefas escolares exige  
do professor, por meio do processo de formação e de estudo, uma mudança de  
concepção, que o leve a aceitar a criança como um ser interativo, imaginativo,  
ativo e lúdico e descubra o potencial de desenvolvimento que está por trás das  
brincadeiras e dos jogos. (LIMA, 2008, p.28).  
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PLATÃO. Les lois. Cap. I e VII. Tome XI e XII, Collection des Universités de France, Paris - Les Belles Letres,  
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Considerações Finais  
Consideramos que a partir das vivências dos jogos de origem africana e afro-brasileira no  
contexto escolar, proporcionam a construção dos processos educativos relacionados à valorização,  
conhecimento e reconhecimento da cultura africana e afro-brasileira, possibilitando aos estudantes  
apresentarem os seus saberes, suas descobertas, suas indagações e suas curiosidades por meio dos  
jogos. Assim, apresentamos o jogo como uma proposta sociocultural para o ensino, tornando-o  
assim, um momento de aprender-e-ensinar a respeitar, a conhecer, a reconhecer, a valorizar as  
diferenças culturais do nosso povo tão diverso.  
Entendemos que na escola, o jogo não pode ser dissociado do processo educativo,  
como infelizmente tem ocorrido em muitas instituições, em especial nas aulas de Educação  
Física. No espaço educacional precisamos superar da falsa dicotomia entre o jogar e o  
aprender, para isso, existe a necessidade do/a professor/a compreender a utilização do jogo  
como proposta pedagógica. Dentre outras, temos algumas práticas recorrentes quando o  
assunto é jogo na escola. Temos observado que o jogo tem sido tratado de forma secundá-  
ria, tratado como recreação, esse tipo de atividade é visto como momentos de relaxamento  
ou descanso das crianças, são momentos nos quais a criança pode se divertir, descontrair-se e  
descarregar a energia excedente. A atividade é proposta pelo/a professor/a apenas por colaborar,  
no descanso, na recuperação e no preparo da criança para o “ensino”.  
A outra perspectiva é a que adota o jogo como “proposta pedagógica” transforma as ativi-  
dades lúdicas em um recurso para sedução, atração e facilitação de aprendizagens de conteúdos  
das diversas áreas do conhecimento em abordagens interdisciplinares. Nessa perspectiva, o jogo é  
utilizado como viés para ensinar. Neste artigo, defendemos que as duas atividades são de nature-  
zas distintas, porém são conciliáveis e juntas se complementam, dentro das suas possibilidades e  
limitações, como recursos pedagógicos. Ressaltamos aqui a importância do/a professor/a no pro-  
cesso educacional, pois, ele/a, exerce o papel de mediador/a entre a criança e o processo educativo  
através da cultura dos jogos, e as suas intervenções é essencial para que os/as estudantes ampliem  
e diversifiquem os seus conhecimentos sobre jogos. Quando o/a professor/a propõe condições  
materiais, espaciais, temporais apropriadas e desafiadoras, possibilita que os/as educandos/as, a  
partir do seu repertório, brinquem, divirtam-se e aprendam com diferentes elementos da cultura.  
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Com certas dificuldades e limitações, entendemos que as considerações destacadas podem  
servir de suporte para outras práticas educativas, no que se refere à utilização do jogo como pro-  
posta sociocultural para o ensino. O jogo, portanto, é um tipo de atividade significativa, atrativa,  
que atende às necessidades e às possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.  
Mas, a sua secundarização é um grave equívoco cometido por muitos/as professores/as e por  
muitas instituições educacionais. Salientamos que devemos possibilitar formação de crianças mais  
críticas, solidárias, autônomas e criativas. Portanto, isso cabe ao professor/a, valorizar o brincar e o  
jogar, superar as dificuldades e empregar tais conteúdos como proposta pedagógica. Desta forma,  
concluímos que os jogos e as brincadeiras apresentam uma gama de possibilidades para prática  
educacional, estes, sendo utilizados com finalidades pedagógicas, podem gerar conhecimento das  
mais variadas áreas do conhecimento, tornando-se um importante recurso pedagógico para o ensino.  
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Recebido em: 10 de março de 2020.  
Inserido em: 15 de outubro de 2020.  
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.  
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