EFEITOS DO USO DA AYAHUASCA UTILIZADA EM CERIMÔNIAS RELIGIOSAS SOBRE ASPECTOS EMOCIONAIS DOS PARTICIPANTES[1]

 

Felipe Teixeira1*

 

1Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana e Gestão socioambiental PPGEcoH - Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais - DTCS/Campus III Universidade do Estado da Bahia UNEB.

*Autor para correspondência E-mail: felipe.teixeiraenf@gmail.com

 

Recebido: 05. 10. 2023      Aceito: 22. 04. 2024

 

 

RESUMO: Analisar efeitos terapêuticos da ayahuasca sobre aspectos emocionais em indivíduos que utilizam a bebida em contexto religioso. Este estudo qualitativo, observacional e exploratório, foi realizado entre março e abril de 2021. A amostra consistiu em 10 participantes adeptos da religião ayahuasqueira Santo Daime, associados ao Centro Espiritualista Céu de Francisco, dos quais, cinco eram do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com idades entre 21 e 42 anos, todos residentes na cidade de Paulo Afonso, Bahia. Foram empregadas técnicas de observação participante, diário de campo e entrevista semiestruturada para coletar dados. A análise dos dados foi realizada por meio de análise de conteúdo. A maioria dos participantes relatou experiências emocionais positivas após o uso da ayahuasca. Esses sentimentos positivos não se limitaram apenas a benefícios individuais, mas também se estenderam a melhorias nas relações interpessoais fora do contexto religioso. Os participantes ganharam uma compreensão mais profunda dos efeitos terapêuticos da ayahuasca, identificando mudanças significativas em seus sentimentos e na forma como enfrentam os desafios do cotidiano. Essas mudanças foram acompanhadas de benefícios nas relações interpessoais, autoconhecimento e espiritualidade. Este estudo revelou uma inclinação positiva nos resultados devido à natureza da amostragem, que atraiu participantes que experimentaram benefícios terapêuticos com a ayahuasca. É importante destacar que as limitações incluem a falta de relatos de indivíduos que tiveram efeitos negativos da ayahuasca devido à natureza da amostra. Além disso, a natureza qualitativa e a amostragem de conveniência deste estudo impedem a generalização dos resultados. No entanto, esses achados qualitativos fornecem uma base para futuros estudos quantitativos comparativos que podem confirmar e expandir os resultados encontrados.

 

Palavras-chave: Saúde Mental; Ayahuasca; N, N-Dimetiltriptamina; Sentimentos; Espiritualidade

 

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EFFECTS OF THE USE OF AYAHUASCA IN RELIGIOUS CEREMONIES ON THE EMOTIONAL ASPECTS OF THE PARTICIPANT

 

ABSTRACT: To analyze the therapeutic effects of ayahuasca on emotional aspects in individuals who use the brew in a religious context. This qualitative, observational, and exploratory study was conducted between March and April 2021. The study sample consisted of 10 participants who were adherents of the Santo Daime ayahuasca religion, affiliated with the Céu de Francisco Spiritual Center. Among them, five were male and five were female, with ages ranging from 21 to 42 years, all residing in the city of Paulo Afonso, Bahia. Participant observation, field diaries, and semi-structured interviews were employed to collect data. Data analysis was performed through content analysis. The majority of participants reported positive emotional experiences after using ayahuasca. These positive feelings extended beyond individual benefits, encompassing improvements in interpersonal relationships outside the religious context. Participants gained a deeper understanding of the therapeutic effects of ayahuasca, identifying significant changes in their emotions and how they confronted daily challenges. These changes were accompanied by improvements in interpersonal relationships, self-awareness, and spirituality. This study revealed a positive bias in the results due to the nature of the sample, attracting participants who experienced therapeutic benefits with ayahuasca. It is important to note that limitations include the absence of reports from individuals who experienced negative effects of ayahuasca due to the nature of the sample. Furthermore, the qualitative nature and convenience sampling of this study hinder the generalization of results. Nevertheless, these qualitative findings provide a foundation for future comparative quantitative studies that can confirm and expand upon the results of this study.

 

Keywords: Mental Health; Ayahuasca; N, N-Dimethyltryptamine; Feelings; Spiritualit

 

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EFECTOS DEL USO DE LA AYAHUASCA UTILIZADA EN CEREMONIAS RELIGIOSAS SOBRE LOS ASPECTOS EMOCIONALES DE LOS PARTICIPANTES

 

RESUMEN: Analizar los efectos terapéuticos de la ayahuasca en aspectos emocionales en individuos que la consumen en un contexto religioso. Este estudio cualitativo, observacional y exploratorio se llevó a cabo entre marzo y abril de 2021. La muestra de estudio consistió en 10 participantes que eran adeptos de la religión ayahuasquera Santo Daime, afiliados al Centro Espiritualista Céu de Francisco. De ellos, cinco eran hombres y cinco mujeres, con edades comprendidas entre 21 y 42 años, todos residentes en la ciudad de Paulo Afonso, Bahía. Se emplearon técnicas de observación participante, diario de campo y entrevistas semiestructuradas para recopilar datos. El análisis de datos se realizó mediante análisis de contenido. La mayoría de los participantes informó haber experimentado emociones positivas después de consumir ayahuasca. Estos sentimientos positivos no se limitaron a beneficios individuales, sino que también se tradujeron en mejoras en las relaciones interpersonales fuera del contexto religioso. Los participantes adquirieron una comprensión más profunda de los efectos terapéuticos de la ayahuasca, identificando cambios significativos en sus emociones y en la forma en que enfrentaban los desafíos cotidianos. Estos cambios estuvieron acompañados de mejoras en las relaciones interpersonales, la autoconciencia y la espiritualidad. Este estudio reveló una tendencia positiva en los resultados debido a la naturaleza de la muestra, atrayendo a participantes que experimentaron beneficios terapéuticos con la ayahuasca. Es importante destacar que las limitaciones incluyen la falta de informes de individuos que experimentaron efectos negativos de la ayahuasca debido a la naturaleza de la muestra. Además, la naturaleza cualitativa y el muestreo por conveniencia de este estudio dificultan la generalización de los resultados. No obstante, estos hallazgos cualitativos proporcionan una base para futuros estudios cuantitativos comparativos que puedan confirmar y ampliar los resultados de este estudio

 

Palabras clave: Salud Mental; Ayahuasca; N, N-Dimetiltriptamina; Sentimientos; Espiritualidad

 

 

INTRODUÇÃO

 

A ayahuasca é uma bebida psicoativa originalmente utilizada por povos nativos do Brasil, Peru, Equador e Colômbia. A etimologia do termo "ayahuasca" pode ser decomposta em "aya", que significa alma, e "huasca", que se traduz como videira ou corda, podendo ser interpretado em português como "videira das almas" (Moreira, MacRae, 2011). A preparação da bebida envolve a decocção de duas plantas: o caule lenhoso do cipó Banisteriopsis caapi ([Spruce ex Griseb.] C. V. Morton Malpighiaceae) e as folhas do arbusto Psychotria viridis (Ruiz & Pav. – Rubiaceae). A N, N-dimetiltriptamina (DMT) é a molécula psicodélica presente na composição, conhecida por suas propriedades enteógenas, a qual demonstra uma notável afinidade pelos receptores de serotonina, que atuam como neurotransmissores e estão amplamente distribuídos por todo o corpo, mas cujos efeitos preponderantes são observados no sistema nervoso central (SNC) (Strassman, 2019). O DMT tem a capacidade singular de potencializar a atividade dos neurotransmissores que desempenham um papel fundamental na regulação das emoções, na percepção sensorial e, por conseguinte, na indução de sensações de bem-estar (Araújo, 2020).

O uso da ayahuasca é estritamente autorizado dentro de um contexto religioso aprovado pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), conforme estabelecido pela Resolução 01/2010 (Brasil, 2010). Essa resolução estabelece diretrizes e procedimentos abrangentes relacionados à ayahuasca, regulamentando desde a colheita das plantas que compõem a bebida até sua preparação, transporte, armazenamento e consumo.

A Resolução 01/2010 foi elaborada com base na análise realizada por um Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT), composto por pesquisadores e representantes de grupos religiosos ayahuasqueiros. Este GMT foi constituído pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas com o propósito de examinar o uso religioso da ayahuasca no Brasil e estabelecer princípios deontológicos para prevenir seu uso inadequado. O parecer emitido pelo GMT também enfatizou a importância e incentivou a condução de estudos relacionados ao potencial terapêutico da ayahuasca. Isso visa possibilitar que a eficácia dos efeitos relatados de maneira anedótica seja avaliada por meio de métodos científicos desenvolvidos por instituições acadêmicas (Labate e Feeney, 2011; 2012).

Há três vertentes de religiões ayahuasqueiras, definidas por seus mestres fundadores: (1) em 1930, Raimundo Irineu Serra, reverenciado como Mestre Irineu por seus seguidores até os dias atuais, estabeleceu a primeira religião fundamentada no uso da ayahuasca; (2) posteriormente, em 1945, Daniel Pereira de Mattos, também conhecido como Mestre Daniel, fundou a Barquinha, uma entidade religiosa que incorporou a ayahuasca em suas práticas espirituais; e (3) em 1961, José Gabriel da Costa, ou Mestre Gabriel, deu origem à União do Vegetal (UDV) em Porto Velho, Rondônia, estabelecendo assim outra tradição religiosa que adota a ayahuasca como elemento central de suas cerimônias ritualísticas. Esse panorama histórico reflete a evolução do uso da ayahuasca em contextos religiosos no Brasil, marcando a fundação de diferentes tradições espirituais que continuam a prosperar e exercer influência nas práticas contemporâneas envolvendo essa substância enteogênica (Moreira e Macrae, 2011).

Nos anos recentes, observa-se a disseminação dessas igrejas em diversos países, com um aumento significativo na procura por seus rituais religiosos por parte de indivíduos provenientes de áreas urbanas (Labate, 2002). Essa busca tem como motivação a  cura espiritual, tratamento da depressão e/ou superação de dependência química. Diante do crescente interesse público pelos efeitos da ayahuasca, no âmbito da saúde mental, a literatura científica sugere que a administração aguda de ayahuasca a voluntários saudáveis em contextos de pesquisa demonstra um perfil de segurança satisfatório. Além disso, não há associação entre o uso ritual de longo prazo dessa substância e prejuízos cognitivos ou psiquiátricos (Hamill et al., 2019).

O uso ritual da ayahuasca tem sido associado à facilitação de um estado de introspecção, o qual possibilita o (re)processamento de conteúdos psicoemocionais, incluindo a revisão e análise de elementos autobiográficos, a ocorrência de catarses emocionais e a emergência de diversos sentimentos positivos. Essa série de experiências contribui para a redução dos níveis de ansiedade e dos sintomas depressivos, promovendo, assim, um estado de bem-estar psicoemocional (Maia et al., 2023).

Indivíduos com antecedentes ou predisposição genética para transtorno bipolar e esquizofrenia devem evitar o consumo da ayahuasca, devido ao potencial risco de desencadear surtos psicóticos. Além disso, aqueles que utilizam antidepressivos contendo inibidores da monoamina oxidase (IMAO) correm o risco de desencadear reações potencialmente perigosas à vida, resultantes do aumento da atividade serotoninérgica no sistema nervoso central (Dos Santos et al., 2017).

Embora a incidência geral de episódios psicóticos em contextos rituais seja considerada rara, estimando-se em menos de 0,1%, essa precaução é especialmente relevante para indivíduos com transtornos psiquiátricos graves, especialmente os propensos à psicose (Bouso et al., 2017). Em princípio, os dados indicam que a ayahuasca é contraindicada para esse grupo específico de pessoas, destacando a importância da avaliação cuidadosa do histórico de saúde mental antes do uso da substância.

Neste sentido, questiona-se:  A utilização do chá da ayahuasca no contexto religioso traz benefícios terapêuticos para os adeptos? Diante disto, tem-se como objetivo deste estudo: analisar efeitos terapêuticos do chá da ayahuasca sobre aspectos emocionais em indivíduos que utilizam a bebida no contexto religioso.

 

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

A Rainha da Floresta: o Santo Daime

No ano de 1930, Raimundo Irineu Serra iniciou sua missão, inspirado por uma entidade feminina que se autodenominou Rainha da Floresta, equiparada à Virgem da Conceição na religião católica. Esse acontecimento se deu durante uma experiência sob o efeito psicodélico, conhecida como miração entre os adeptos. Desde então, Raimundo Irineu Serra (Mestre Irineu) empreendeu o desenvolvimento de um culto religioso em torno da ayahuasca na Amazônia, denominado "daime", em referência ao verbo "dar" e às invocações como "dai-me força, dai-me luz e dai-me amor", ainda usadas até hoje (Moreira; MacRae, 2011)

Os autores Paulo Moreira e Edward MacRae (2011) abordam a história de Raimundo Irineu Serra e destacam que ele enfrentou discriminação e estigmatização, sendo alvo de termos pejorativos, como "negro" e "macumbeiro". Este cenário de preconceito e hostilidade contra indivíduos adeptos de religiões de matriz africana, observado na época, ecoa nos dias atuais, manifestando-se especialmente através de críticas e agressões por parte de grupos evangélicos fundamentalistas. Neste período em que Raimundo Irineu Serra viveu, o Território Federal do Acre estava sob o governo de Luiz Silvestre Gomes Coelho, que ocupou o cargo de 25 de outubro de 1942 a 22 de fevereiro de 1946. Essa era uma época marcada pelo Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas, que ostentava uma clara inspiração no fascismo. O regime propagava valores de ordem, patriotismo, cientificismo positivista e eugenia branqueadora em todo o Brasil. Nesse contexto político e cultural, a comunidade daimista, composta em sua maioria por negros e mestiços, que utilizavam uma bebida indígena com supostos poderes mágicos, passou a ser alvo de um preconceito ainda mais intenso e discriminatório.

O surgimento da fase característica do Santo Daime coincidiu com a morte de seu fundador, que não nomeou um sucessor. Sebastião Mota de Melo, seguidor do Mestre Irineu, emergiu como líder em 1974, sendo posteriormente reconhecido como padrinho, expandindo o culto do Santo Daime do Acre para o Sudeste e outras regiões do Brasil. A instituição original ligada a Mestre Irineu permaneceu como “Alto Santo” (Ciclu), enquanto a liderança de Padrinho Sebastião Mota fundou o Centro Eclético da Influente Luz Universal Raimundo Irineu Serra (Cefluris), também conhecido como Colônia Cinco Mil e, em 1983, a comunidade “Céu do Mapiá”. Atualmente, esta instituição é denominada Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal Patrono Sebastião Mota de Melo (Iceflu), abrigando mais de 600 pessoas (Bomfim, 2020).

Nas décadas de 1970 e 1980, mochileiros e adeptos do movimento hippie buscaram a ayahuasca na floresta, e retornaram a seus estados de origem difundindo a religião do Santo Daime em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, alcançando figuras públicas, artistas de televisão e ganhando visibilidade no Brasil. Além das demais regiões brasileiras, o Santo Daime se espalhou por 35 países, incluindo Espanha, Holanda, Itália, França, Argentina, Uruguai, Japão, Israel, Estados Unidos e Canadá.

As sessões rituais do Santo Daime são baseadas no culto cristão e incluem cantigas conhecidas como hinos, recebidas pelos adeptos, com Mestre Irineu sendo o principal receptor desses cânticos, construindo uma base cristã/católica. Além disso, a doutrina incorpora elementos da natureza e um panteão de divindades, com sessões divididas em concentração e bailados (Bomfim, 2020). As sessões ocorrem a cada 15 dias e incluem trabalhos como a Santa Missa, dedicada a entes queridos, e a mesa branca, voltada para práticas mediúnicas, sempre acompanhadas dos hinos de Mestre Irineu e Padrinho Sebastião. As vestimentas são definidas como uma "farda", composta por calça azul marinho, camisa social branca e gravata para homens, e saia e camisa para mulheres, todas nas cores correspondentes (Labate, 2002).

A doutrina do Santo Daime é baseada em princípios éticos e morais de paz, amor, verdade e justiça, transmitidos oralmente nas sessões. Acredita-se que os hinos contidos em caderninhos fornecidos aos adeptos oferecem mensagens curativas e esclarecedoras. A participação não é por convite, mas sim mediante uma anamnese realizada por um membro da igreja (De Araújo, 2019; Bomfim, 2020).

 

Atuação e Resultado da Substância N, N Dimetiltriptamina

­A substância química presente nas folhas da ayahuasca desencadeia efeitos psicoativos no cérebro, resultando em experiências psicodélica. Essa interpretação se assemelha mais ao significado do termo "psicodélico", que é amplamente utilizado atualmente. A palavra "psicodélico" tem origem de palavras gregas “psique”, que significa "mente". Portanto, "psicodélico" pode ser traduzido como "manifestação da mente/alma". Foi o psiquiatra britânico Humphry Osmond quem cunhou esse termo em 1956 (Bravo e Grob, 2003).

 No entanto, é importante observar que o termo "alucinógeno" é menos utilizado entre a maioria dos pesquisadores. A definição foi cunhada em 1957 pelo psiquiatra Humphry Osmond e descreve a ocorrência de visões com os olhos abertos, com um caráter mais sintético, ou seja, induzido de fora para dentro (Bravo e Grob, 2003). Para descrever de maneira mais precisa o efeito das plantas psicodélicas, o conceito preferível é "enteógeno".

O brasileiro Prof. Dr. Dráulio Barros de Araújo, um pioneiro na pesquisa de psicofarmacologia e neurociência relacionada à ayahuasca, enfatiza que os efeitos se manifestam como imagens mentais, semelhantes a um sonho, com alterações na consciência que não comprometem o controle físico, emocional e a percepção do tempo e espaço. Os adeptos da ayahuasca frequentemente descrevem suas experiências como inefáveis (Araujo, 2020).

O termo "enteógeno" é derivado do grego "entheos", que significa "Deus dentro", sugerindo a capacidade dessas substâncias de despertar o divino interior. A relação com as chamadas "Plantas de poder" ou "Plantas professoras" tem uma rica representação cultural ao longo do tempo, atraindo a atenção de estudiosos em todo o mundo (Mercante, 2009; Oliveira et al., 2018; Wolff et al., 2019). No contexto do Santo Daime e dos daimistas, que consideram a bebida como sagrada, o termo "enteógeno" é mais apropriado.

Para os praticantes dessas tradições religiosas, a sinergia entre o cipó Banisteriopsis caapi, comumente conhecido como "Rei Jagube" e simbolizando a energia masculina, juntamente com a folha do arbusto Psychotria viridis, referida como "Rainha" e representando a energia feminina, assume um significado profundamente simbólico. Para os seguidores do Santo Daime, o daime, como enteógeno, é percebido como uma manifestação tangível do divino, uma presença que detém o potencial de aprimorar aspectos da vida, incluindo bem-estar físico, relações amorosas e um sentido de conexão mais profundo com o ambiente natural.

É fundamental compreender, portanto, que o termo "enteógeno" abarca uma série de características distintas. Primeiramente, tais substâncias são encontradas na natureza em sua forma original, sem terem sido submetidas a processos de síntese ou alteração química. Além disso, o uso dessa substância é circunscrito a um contexto ritual ou religioso específico, no qual o objetivo primordial é alcançar uma experiência íntima e curativa. Como discutido por Bomfim (2020), o conceito de enteógeno engloba esses elementos cruciais, delineando assim a natureza única e sagrada em seus contextos culturais e espirituais.

Conforme afirmado por Araújo (2020), a ayahuasca tem despertado considerável interesse na comunidade científica nos últimos anos devido ao seu potencial terapêutico. Nesse contexto, as evidências mais sólidas até o momento se concentram na avaliação do potencial terapêutico da N, N-Dimetiltriptamina (DMT) no tratamento da depressão e da dependência de substâncias, existindo já  um extenso conjunto de relatos anedóticos e estudos observacionais que servem  de estímulo para a realização de investigações pré-clínicas e clínicas (Rodrigues et al., 2019).

No âmbito da saúde mental, a literatura científica sugere que a administração aguda de ayahuasca em voluntários saudáveis, em contextos de pesquisa, exibe um perfil de segurança favorável. Adicionalmente, o uso ritual prolongado não está associado a prejuízos cognitivos ou psiquiátricos, conforme indicado por diversos estudos (Barbosa et al., 2012; Dos Santos et al., 2016; Hamill et al., 2019). Em pesquisas clínicas, relatos de reações disfóricas foram documentados, caracterizadas por desorientação, ansiedade e sentimentos de suspeita e ameaça. Contudo, tais casos são considerados raros e isolados, sendo efetivamente gerenciados com apoio verbal e desaparecendo completamente após o período de ação da substância (Riba e Barbanoj, 2005). Similarmente, reações dessa natureza podem ocorrer com outras substâncias psicodélicas, mas são geralmente infrequentes e transitórias, resolvendo-se sem a necessidade de intervenção médica (Johnson et al., 2008; Studerus et al., 2011; Garcia-Romeu et al., 2016).

A fim de compreender o funcionamento dos efeitos da ayahuasca no organismo, é essencial considerar a presença da substância química DMT nas folhas de P. virides. Esta substância é metabolizada por enzimas estomacais conhecidas como monoamino oxidase (MAO-A). Portanto, a combinação das duas plantas, que inclui o B. caapi, é fundamental, uma vez que esta espécie é rica em inibidores de MAO-A, como a harmina, a tetrahidroharmina e a harmalina. A presença da harmina permite que o DMT se torne um composto altamente psicoativo, que penetra na corrente sanguínea e atravessa a barreira hematoencefálica para alcançar o cérebro. Além disso, o DMT compete de maneira eficaz com a serotonina em áreas de ligação simpática, resultando em uma experiência prolongada de liberação lenta do DMT, com duração de quatro a seis horas, que constitui a base das experiências psicodélicas (Aguiar, 2016).

Esta molécula também é endógena, ou seja, é naturalmente encontrada no corpo humano, presente nos pulmões, sangue, urina e cérebro. Existem regiões com uma alta densidade desses receptores de serotonina sensíveis ao DMT que desempenham papéis fundamentais no humor, na percepção e no pensamento. A absorção de substâncias psicodélicas influenciada por esses neurotransmissores pode resultar em consideráveis impactos na memória emocional, sensorial e em funções cognitivas cruciais, como formação de imagens mentais, controle da fala e autoconsciência. A serotonina, por sua vez, desempenha um papel no sistema nervoso central e é sintetizada a partir do aminoácido triptofano, influenciando diversas funções fisiológicas e patológicas, como ansiedade e depressão (Goodman e Gilman, 2007). Alguns efeitos considerados adversos, como vômito e náusea após a ingestão, a purga ou “limpeza” física, é um aspecto importante e natural da própria experiência com a ayahuasca (Mabit et al., 1996; Labate, 2004; Luna, 2011; Loizaga-Velder e Pazzi, 2014; Shanon, 2014; Fotiou e Gearin, 2019).

Os alcaloides agonistas serotoninérgicos presentes na ayahuasca induzem sensações de bem-estar, com resultados positivos relacionados ao tratamento da depressão, conforme observado em estados alterados de consciência (Osório et al., 2015). Além disso, assim como o sono, o coma e o estado de vigília da consciência cotidiana, outros modos inatos de funcionamento da consciência, podem ser ativados por psicodélicos ou outras práticas (como meditação, privação sensorial e êxtase religioso). Nestes estados, os indivíduos mergulham em suas memórias autobiográficas e em domínios transpessoais, vivenciando a emergência de conteúdos internos e outras características da realidade, que podem atuar como modificadores ou catalisadores na transformação da visão de mundo individual e nas atitudes em relação ao mundo (Escobar, 2012).

Goodman e Gilman (2007) explicam que, no sistema fisiológico, as influências da serotonina não se limitam ao humor e ao sono, afetando também o controle e a regulação da pressão arterial. Portanto, as propriedades do DMT presentes na ayahuasca, que interagem diretamente com neurotransmissores e afetam diversos sistemas do corpo humano, têm gradualmente impactado de maneira positiva o comportamento sociocultural daqueles que utilizam a bebida conhecida como daime. Isso proporciona uma compreensão mais clara da complexidade da mente e de sua profundidade.

 

METODOLOGIA

 

Este estudo adota uma abordagem qualitativa, observacional e exploratória. Essa metodologia busca analisar os processos, relacionamentos e fenômenos associados ao objeto de estudo, permitindo a compreensão de suas características por meio de entrevistas. Os participantes desta pesquisa são adeptos da religião ayahuasqueira Santo Daime, associados ao Centro Espiritualista Céu de Francisco, localizado na cidade de Paulo Afonso, Bahia. O período de coleta de dados ocorreu nos meses de março e abril de 2021. A seleção dos participantes foi realizada por meio de convites direcionados aos membros do centro, com a apresentação do estudo em uma videoconferência para os 16 associados. Destes, 10 aceitaram participar da pesquisa, constituindo a amostra final. Os critérios de inclusão abrangeram frequentadores com mais de 1 (um) ano de experiência, de ambos os sexos, excluindo-se menores de 18 anos.

A coleta de dados envolveu a observação participante e a elaboração de anotações em um diário de campo. O pesquisador (FT), que já participava anteriormente das cerimônias no centro onde a pesquisa foi conduzida, realizou observações durante as sessões com a ayahuasca. Adicionalmente, foram conduzidas entrevistas individuais semiestruturadas, de forma presencial, nas residências dos participantes, seguindo as normas e diretrizes de prevenção da Covid-19. O roteiro de entrevista foi desenvolvido para investigar os sentimentos manifestados pelos participantes após o consumo da ayahuasca. Após obtermos o consentimento prévio do entrevistado e com a devida leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os áudios de todas as entrevistas foram cuidadosamente gravados. Cada entrevista teve uma duração média de aproximadamente uma hora.

A análise de conteúdo foi realizada conforme a abordagem proposta por Bardin (2016) e compreendeu três etapas sequenciais: (1) organização, na qual todo o material coletado nas entrevistas foi sistematicamente organizado; (2) codificação, que envolveu a identificação de trechos nas entrevistas que estavam relacionados aos objetivos da pesquisa; e (3) categorização, na qual foram criadas categorias com base nas expressões presentes nas falas dos participantes e na sua correspondência com os temas abordados.

Este estudo foi conduzido em conformidade com a Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, seguindo todos os seus aspectos. Além disso, recebeu a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Rio São Francisco – (UNIRIOS) em Paulo Afonso/BA (Parecer nº 4.446.656, CAAE - 38437320.1.0000.8166). Os depoimentos dos adeptos serão apresentados nos resultados, sendo identificados por codinomes relacionados a elementos da natureza presentes na cosmologia do Santo Daime, como: “Princesa Soloína”, “Maraximbé”, “Mãe d’água”, “Flor de Jagube”, “Sol”, “Lua”, “Estrela”, entre outros.

 

 

RESULTADOS

 

Participantes

A amostra deste estudo consistiu em 10 participantes, dos quais cinco eram do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com idades variando entre 21 e 42 anos, todos residentes na cidade de Paulo Afonso, Bahia. Quanto ao estado civil, sete participantes eram solteiros, dois estavam em relacionamento amoroso e um estava casado.

No que diz respeito à autodeclaração da cor da pele, seis participantes se identificaram como pardos, um como negro, um como branco, um como indígena e um preferiu não declarar. A questão da filiação foi abordada, e apenas dois participantes relataram ter filhos.

A ocupação dos participantes era bastante diversificada, abrangendo profissões como terapeuta, professor(a), diagramador(a), ator/atriz, estudante, balconista, eletricista, advogado(a), consultor(a) ambiental e fotógrafo(a).

Quanto à escolaridade, a análise revelou que sete participantes possuíam nível superior completo, dois tinham concluído o nível médio e um possuía mestrado. No que diz respeito à religião, a maioria dos participantes identificou-se como seguidores de crenças diversas, incluindo “daimista”, “espiritismo”, “candomblé”, “umbanda” e “simpatizantes”.

A análise de conteúdo dos dados obtidos resultou em duas categorias: (1) efeitos terapêuticos após o uso da ayahuasca; e (2) percepções sobre a saúde mental antes e depois da cerimônia com a ayahuasca.

 

Efeitos Terapêuticos Após o Uso da Ayahuasca

Os relatos a seguir apresentam uma série de depoimentos de indivíduos que participam de cerimônias religiosas envolvendo a ayahuasca, também conhecida como Santo Daime. Esses relatos descrevem os sentimentos e percepções dessas pessoas após o uso da substância. Vamos analisar as principais ideias expressas pelos participantes, que descreveram uma sensação de sentirem bem consigo e com os outros. Isso sugere que a experiência com a ayahuasca pode ter um efeito positivo nas emoções e no estado de ânimo das pessoas. Além dos efeitos da substância em si, os participantes destacam a importância da vivência em grupo que a religião proporciona. Eles mencionam a falta que sentem de participarem dos rituais, de reverem amigos e de estarem envolvidos no trabalho espiritual.

 

Ah [...] o sentimento pós trabalho, é um sentimento de leveza, de harmonia, de bem-estar, acho que a palavra é essa, bem-estar. É sentir-se bem consigo e com os outros, acho que é isso. (Sol).

 

 [...] a minha percepção dentro do Santo Daime não é nem exatamente só a planta, só o vegetal. Acho que a vivência no coletivo que o Santo Daime (ayahuasca) proporciona, isso faz muita falta, de ir para a igreja, de rever os amigos, de participar do trabalho espiritual. (Caboclo Maraximbé).

 

Os depoentes mencionam que a ayahuasca os ajuda a encontrar soluções e a mudar hábitos de vida para o lado positivo e construtivo, acreditando que a substância os orienta a fazer mudanças em diversos aspectos de suas vidas, incluindo relações familiares e pessoais, como observado nos trechos abaixo:

 

 [...] ela me ajuda muito, porque é como se ela também me mostrasse a solução, sabe, na verdade ela me ajuda e nos permite a sempre estar mudando sempre para o lado positivo, mudando os hábitos em toda amplitude da nossa vida, e aí, uma consequência, né [...]. E com isso muda vários aspectos. (Princesa Soloína).

 

Aspectos da vida, as relações familiares, as relações com as pessoas mudam também, tudo na sua vida muda. Se isso é realmente o que você estiver buscando no seu destino. (Mãe D’agua).

 

[...] a minha questão da conduta mesmo, ela se modificou, a minha firmeza sobre a vida. As coisas vêm, os problemas eles não deixam de existir, né? Mas, a forma como você ver aquilo, ela se modifica e você vê mais clareza e essa clareza não fica restrita às sessões. Então, essa cura que eu busco no ato da sessão, ela se estende aos ângulos, nos dias, a cada sessão, a cada trabalho ela vai se fortalecendo. (Flor de Jagube).

 

[...] esse medo, ele tá sendo trabalhado, e é isso também que ela [a ayahuasca] vai provocando na gente, como trabalhar esse medo, como trabalhar essa resistência, porque o medo ele atrapalha o processo de entrega. Então, assim, cada vez mais eu tô buscando confiar; é confiar, né, que os hinos trazem? – [canta um trecho de um hino] “Confia, confia...” – E eu tô confiando, como você se entregar a si mesmo em suas próprias mãos. (Rainha da Floresta).

 

A narrativa destaca que os problemas da vida cotidiana continuam a existir, mas sua maneira de encará-los mudou significativamente.

 

[...] hoje eu consigo ter uma relação mais saudável com minha família e com meus amigos. Tenho um pouco mais de empatia. (Estrela Dalva).

 

[...] descobri como viver melhor. (Lua).

 

[...] tem sido assim, um desafio. Me sentia uma pessoa mega rebelde e tal, cheio de comportamentos errados... [pensa] Para dentro da sociedade e de convívio com as pessoas, e aí, foi todos os caminhos sendo desconstruídos, é um retorno para o meu eu, para minha essência. Então, tem sido incrível comungar. Hoje eu me sinto muito integrado com o todo, com a natureza, com tudo que é vivo. (Estrela).

 

[...] eu venho aprendendo a trabalhar essa questão da ansiedade. Então, eu me entreguei àquele processo e aconteceu. A força veio e vem com muitos ensinamentos, muitos de olhar para si e tentar entender até esse momento nesse contexto que a gente tá vivendo e vivenciando como uma ferramenta, e como lidar com isso dentro do meu dia a dia, dentro das minhas relações. (Tarumim).

[...] eu passei a conhecer e me vi dentro de um espaço, de conseguir enxergar todas as coisas que eu acreditava que estava em Maria, que estava na espiritualidade e porque estavam nos orixás. São exatamente tudo que tem dentro da doutrina e eu acho que é o que me faz ir até hoje. (Sol).

 

[...] foi o trabalho mais forte que participei em minha vida. Assim que eu tive um contato, que eu não estava entendendo muito bem, foi com orixá Oxum. Para mim, foi fortíssimo, e eu não entendia o próprio orixá, e aí, ela me trouxe uma revelação e assim eu consegui compreender.  Era como se eu tivesse com espelho na minha frente e começava a olhar para mim, e aí, eu estava entendendo o que eu estava fazendo comigo mesmo, me crucificando em alguns momentos. (Caboclo Maraximbé).

 

A experiência parece ter envolvido uma revelação pessoal profunda. Caboclo Maraximbé descreve “a sensação de olhar para si mesmo como se estivesse diante de um espelho”. Isso sugere uma introspecção profunda e uma compreensão de seus próprios padrões de comportamento e autocrítica.

 

[...] inicialmente foi a reconexão com a espiritualidade, a proximidade com a família de Xucuru, que é etnia do meu pai. (Princesa Soloína).

 

[...] Me sinto nos braços de uma mãe, que reconforta e cuida da gente. (Mãe D’água).

 

Finalmente, alguns participantes mencionam o processo de enfrentar e trabalhar o medo como parte de sua experiência com a ayahuasca. Eles descrevem a importância de confiar no processo e na substância, permitindo uma entrega a si mesmos e às suas próprias jornadas de transformação. Esses relatos demonstram a complexidade das experiências com a ayahuasca, que vão além dos efeitos psicodélicos imediatos e têm um impacto profundo nas vidas dos praticantes e nas suas perspectivas.

 

Percepções Sobre a Saúde Mental Antes e Depois da Cerimônia com a Ayahuasca

Nesta etapa, são expostos relatos de indivíduos que enfrentaram desafios relacionados à depressão, ansiedade e maneiras de lidar com essas questões em um contexto de mudanças na rotina e na vida pessoal. Suas experiências oferecem uma visão valiosa sobre como a saúde mental pode ser impactada por diversos fatores, incluindo a pandemia, e como a busca por alívio pode assumir diferentes formas.

[...] eu já tive depressão, já tive uma fase na verdade. A ansiedade eu venho tendo uma constante, é algo que vem me acontecendo. Questão de náusea, tontura, está tudo relacionado a ansiedade. E como no caso da pandemia também, a nossa rotina mudou, todo mundo ficou mais em casa on-line, é muito mais você com você mesmo. Tanto na relação individual como em relação as atividades, então, isso aumenta a minha ansiedade. (Lua).

 

[...] Me senti um pouco triste e tenho um pouco de medo em me aprofundar em algumas situações que me deixam um pouco reflexivo neste momento. (Caboclo Maraximbé).

 

[...]eu sou depressiva e eu sou ansiosa também. E o tempo que eu passo sem a planta eu começo a buscar fugir da vida, da minha vida de outras formas, sabe? Bebendo, fumando, sei lá...Eu tento fugir de tudo o que eu tenho que aprender a lidar. (Princesa Soloína).

 

Para muitos praticantes, esse processo de introspecção em relação aos seus sentimentos revelou-se extremamente benéfico. A capacidade de expressar e explorar as emoções e experiências que ocorrem nos recessos da mente, longe dos olhos do público, provou ser uma oportunidade valiosa. Alguns indivíduos demonstraram intensas emoções durante esse processo, comunicando-se com firmeza, enquanto outros, mais retraídos, enfrentaram dificuldades na expressão, ainda em busca de compreensão.

Uma frase frequentemente mencionada por alguns participantes foi: "O trabalho começa quando ele termina", referindo-se ao trabalho interior desencadeado pelas sessões de ayahuasca. Isso ressalta a importância do acompanhamento contínuo desses adeptos após as cerimônias, enfatizando a necessidade de apoio e orientação para integrar as experiências e insights adquiridos.

 

[...] não chega a ser uma tristeza, mas acredito numa lamentação. (Rainha da Floresta).

 

[...] em alguns momentos eu já tive a sensação de não ordenar os pensamentos, não coordenar, tipo – eu acho que eu vou endoidar – acho que foi mais ou menos isso. (Sol).

 

[...] eu tenho depressão, e antes de tomar a ayahuasca eu tomava remédios, então, passei um tempo tomando esses remédios para depressão e ansiedade, e aí, depois quando eu larguei, né, que eu encontrei o Santo Daime, foi o que me ajudou a resolver e ver a fonte de onde vem esse problema aqui e outro ali. Os remédios, na verdade, eles me davam uma tranquilidade falsa, que não existia. Eu ficava apenas dopada e dormia mais do que eu já durmo, e não conseguia fazer minhas coisas direito, porque eu estava sempre grogue dos remédios, então, era uma tranquilidade falsa para mim. (Tarumim).

 

O relato de Tarumim destaca uma questão crucial relacionada ao uso de medicações no tratamento de problemas de saúde mental. Ela compartilha que o Daime a ajudou a identificar e abordar a fonte de seus problemas, algo que os medicamentos não conseguiram proporcionar. Isso ressalta a preocupação de que, em alguns casos, o uso prolongado de medicamentos pode resultar em efeitos colaterais indesejados e não abordar efetivamente as raízes dos problemas de saúde mental. Isso destaca a importância de uma abordagem mais holística para o tratamento de questões psicológicas, que considere não apenas a gestão dos sintomas, mas também a busca pela compreensão e resolução das causas subjacentes. É um lembrete de que a terapia medicamentosa nem sempre é a única ou a melhor opção e que abordagens alternativas, como terapias baseadas em plantas, podem oferecer benefícios significativos para algumas pessoas.

A seguir, os relatos seguindo a mesma ordem dos entrevistados no início desta seção, sobre os seus sentimentos após a sessão com ayahuasca.

 

 [...] Quando consagro a ayahuasca, na finalização do trabalho eu já não estou mais com tanta pressão mental, estou com a minha mente bem mais relaxada. (Lua).

 

 [...] Pois é [pensando] potencializei e foi potencializado um sentimento. Em outras situações eu consegui sair mais rápido, eu consegui ver que não era da forma como eu estava enxergando, como eu estava vivendo aquele momento de tristeza, aquela preocupação, e aí, quando tomei o Santo Daime - Oh! não é bem assim, tem outra alternativa -. (Caboclo Maraximbé).

 

 [...] Ela dá uma sensação de que está tudo bem e de que vai dar certo, de que mesmo com todos os desafios da vida, a vida é linda também - olha como você tem tanta gente que te ama, olha como o amor é uma força. Não sei por que, o amor fica muito forte [risos]”. O sentimento de amor fica muito forte quando a gente toma a planta e por isso eu acho que todo mundo devia tomar [risos.]”. (Princesa Soloína).

 

A ênfase na exploração das causas subjacentes aos estados emocionais, como ansiedade e depressão, destaca a natureza holística e sagrada da ayahuasca, contribuindo para uma compreensão mais profunda e uma transformação genuína. Esses testemunhos destacam não apenas os efeitos imediatos, mas também a abordagem terapêutica de longo alcance proporcionada por essa prática:

 

[...] a ayahuasca ela me deixa tranquila ali no trabalho e após o trabalho. (Rainha da Floresta).

 

[...] me sinto forte e capaz de resolver meus problemas. (Sol).

 

[...] então, ela vem trabalhar na minha ansiedade, e não é um processo que eu me sinto menos ansiosa, minha autoestima que trabalha em cima de forma muito, muito positiva. Ela tanto te dá esse conforto do que você poderia encontrar na medicação, como ela traz isso com um potencial bem maior, porque ela trabalha as causas, então, isso favorece que você veja. Por que você se sente ansioso? Por que você se sentiu depressivo? Então, assim, é de uma forma muito mais profunda o tratamento dela, é muito mais profundo e totalmente natural, sagrada e em nenhuma medicação se encontra. (Tarumim).

 

 

DISCUSSÃO

 

As duas categorias identificadas expressam que foi alcançada uma melhor compreensão sobre os efeitos terapêuticos causados pela beberagem. Os adeptos apresentaram um melhor entendimento sobre os seus sentimentos, conseguindo fazer um paralelo de como eram antes e após o uso da ayahuasca, reconhecendo muitas vezes uma melhora sobre as problemáticas do cotidiano, bem como um melhoramento nas relações pessoais, autoconhecimento e espiritualidade, os quais envolvem aspectos psicológicos, sociais e ambientais que apontam uma influência significativa na relação do indivíduo consigo mesmo, de pertencimento, de autoavaliação, autocuidado, aceitação perante as adversidades, com as pessoas em seu entorno, com a natureza, além de uma percepção da amorosidade ampliada.

No presente estudo, os efeitos da ayahuasca trouxeram uma melhora nas relações interpessoais, bem como aspectos da saúde mental ligados à ansiedade e depressão, a partir do momento que os adeptos foram percebendo mudanças significativas que atribuíram a novos resultados à vida, dando-lhes possibilidades de apreciá-la com mais consciência e os caminhos a serem percorridos. Isso foi um relato recorrente entre os participantes, que relacionam os benefícios percebidos ao uso do chá, caracterizando-o como um condutor dos processos reflexivos.

A partir de um ensaio clínico, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, realizado com 29 pacientes que sofrem de depressão resistente ao tratamento, realizado no Instituto do Cérebro, que pertence à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi observada uma redução significativa nas pontuações de depressão um, dois e sete dias após a administração de ayahuasca a uma dose de 0,36 mg/kg de DMT, quando comparados ao grupo placebo, composto por 15 participantes (Palhano-Fontes et al., 2019).

Outro estudo de significativa magnitude, baseado nos dados coletados durante o Projeto Ayahuasca Global (GAP) realizado no período entre 2017 e 2020, abrangendo uma amostra de 11.912 participantes, foi conduzido com o propósito de investigar os efeitos do consumo de ayahuasca nas condições emocionais das pessoas. Os resultados revelaram que, entre os indivíduos que apresentavam diagnóstico de depressão (n = 1.571) ou ansiedade (n = 1.125) e que haviam utilizado ayahuasca, a maioria experienciou melhorias de natureza significativa. Aproximadamente 78% dos participantes diagnosticados com depressão relataram melhorias, com 46% deles indicando uma sensação de "melhora substancial" e 32% reportando a resolução "completa" dos sintomas. Similarmente, observou-se que 70% dos indivíduos com diagnóstico de ansiedade notaram melhorias, com 54% descrevendo uma sensação de "melhora substancial" e 16% afirmando que seus sintomas foram "completamente resolvidos". Ademais, a análise dos dados apontou que diversos fatores, tais como experiências místicas durante o consumo da ayahuasca, a frequência do uso dessa substância e o número de insights psicológicos relatados, estavam correlacionados com melhorias mais notáveis nos sintomas (Sarris et al., 2021).

No que diz respeito à ansiedade e depressão, é importante destacar que a segurança e eficácia a longo prazo da ayahuasca ainda são áreas pouco exploradas, principalmente quando comparadas com os antidepressivos convencionais e outros psicodélicos. Dado que a ayahuasca é tradicionalmente empregada em contextos de práticas religiosas, é essencial investigar o impacto desses fatores e as distinções em relação a configurações clínicas que empregam métodos mais estruturados, como estudos com desenhos controlados.

Adicionalmente, é ressaltada a necessidade de realizar estudos com tamanhos amostrais mais amplos e considerar uma maior diversidade étnica. É fundamental investigar aspectos como doses, protocolos de administração, segurança em um horizonte de tempo prolongado, fatores farmacológicos e psicológicos, comparações com terapias convencionais e não convencionais, bem como elucidar os mecanismos de ação por meio de pesquisas tanto pré-clínicas quanto clínicas. Por fim, a ayahuasca tem uma base mais sólida de evidência terapêutica em relação à depressão, com uma variedade de estudos que incluem pré-clínicos, observacionais e clínicos. No entanto, há um aumento na evidência que sugere seu potencial em outras condições de relevância para a saúde pública (Maia et al., 2023).

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É importante salientar as limitações deste estudo, principalmente no que se refere aos métodos de amostragem e à natureza dos dados. O método de amostragem apoiou a participação de adeptos que se beneficiaram a partir da experiência com a ayahuasca.  Portanto, com os dados deste estudo não foi possível obter relatos de indivíduos que ao experimentarem a ayahuasca apresentaram algum efeito negativo.

Durante a fase de recrutamento, embora a busca se concentrasse em indivíduos cuja experiência com a ayahuasca fosse relacionada aos benefícios terapêuticos para a saúde mental, seria possível incluir uma amostra “negativa”, com a finalidade de fazer um paralelo crítico aos demais casos. No entanto, pessoas que podem ter tido experiências dessa natureza não se apresentaram ao decorrer do processo, de forma que não houve conhecimento de casos negativos. Com isso, a inclinação positiva dos resultados, refletindo como as amostras foram desenhadas, é uma importante limitação deste estudo.

Além disso, cabe salientar que a natureza qualitativa da pesquisa, realizada a partir de uma amostra por conveniência e, portanto, não-probabilística ou representativa, impede que os resultados sejam generalizados. Contudo, estudos qualitativos desta ordem possibilitam que os achados sejam avaliados e possivelmente confirmados em posteriores estudos quantitativos comparativos.

 

 

Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, aos orixás Exu e Oxum por terem me permitido realizar este trabalho, embora eu saiba o quanto foi desafiador. Expresso minha gratidão ao meu parceiro pelo apoio constante e pela força que suas palavras me proporcionaram. Quero estender meu agradecimento a todos os participantes do Centro Espiritualista Céu de Francisco em Paulo Afonso, Bahia, por sua entrega e confiança no desenvolvimento deste estudo. Agradecer ao Centro Universitário do Rio São Francisco, Paulo Afonso – BA, pela minha formação em Bacharelado em Enfermagem, e posteriormente, à Universidade do Estado da Bahia e ao Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGEcoH), e ao Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, Campus III Juazeiro – BA. Por fim, dedico meu agradecimento à ciência indígena, ao Mestre Irineu e à ayahuasca por terem proporcionado as oportunidades e insights que tornaram este trabalho possível.

 

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Revista Ouricuri, Juazeiro, Bahia, v.14, n.1. 2024, p.03 - 24. jan./jul., Publicação contínua http://www.revistas.uneb.br/index.php/ouricuri | ISSN 2317-0131


[1] Bolsista - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes