Do inusitado à subversão: A escrita acadêmica xacriabá como resistência intelectual

Autores

Palavras-chave:

Xakriabá, escrita, meio acadêmico, trajetória

Resumo

Esse trabalho objetiva tecer considerações sobre a trajetória acadêmica e produção intelectual de Célia Xakriabá, notória liderança do movimento indígena brasileiro. Célia graduou-se na licenciatura indígena Fiei (Formação Intercultural Para Educadores Indígenas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tornou-se mestre pelo Mestrado em Sustentabilidade Junto à Povos e Territórios Tradicionais (MESPT) da Universidade de Brasília (UnB) e atualmente cursa o doutorado em Antropologia pela UFMG (PPGAN- Programa de Pós Graduação em Antropologia). Em sua trajetória, a liderança acionou epistemes e recursos linguísticos próprios do regime de conhecimento xakriabá em seus trabalhos acadêmicos. Sua escrita acadêmica, orientada por elementos encontrados majoritariamente na oralidade xakriabá, como o português xakriabá e as Loas, com alguma resistência é entendida como escrita científica. Tal escrita não está prevista na gramática acadêmica ocidental já que recorre a frases longas, a repetição de ideias, a discordâncias verbais e de gênero, ao uso de pronomes que transitam na primeira pessoa do singular (eu) e do plural (nós) e a uma poética para se fazer inteligível. O inusitado da presença indígena traz consigo outras formas de produção de escritas, de conhecimentos, de resistência. Acredito que uma das contribuições intelectuais de Célia está em subverter a ordem hegemônica da escrita entendida como acadêmica.

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Biografia do Autor

Amanda Jardim, Universidade Federal de Minas Gerais

Mestranda em Antropologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e graduada em Antropologia pela mesma instituição (2016). Atualmente sou bolsista CAPES e bolsista PIFD (Programa de Iniciação e Formação em Docência) na licenciatura indígena FIEI –Formação Intercultural de Educadores Indígenas (UFMG) e participo do projeto de extensão “Do conto ao (en)canto”- GEPEL/FaE-UFMG.  Durante a graduação participei dos seguintes projetos de pesquisa: “Violência em Escolas e Programas de Prevenção: estudo dos possíveis impactos do programa ‘Escola Viva Comunidade Ativa’ nas escolas estaduais de Minas Gerais”- CRISP/UFMG e “Reconstruindo os objetos de pesquisa: uma análise dos percursos indutivos em trabalhos antropológicos e arqueológico” - PEG/UFMG, tendo recebido o prêmio de Relevância Acadêmica na XV Semana de Conhecimento e Cultura da UFMG pelo último projeto. Também durante a graduação, atuei como monitora da disciplina “Antropologia e Educação”, ofertada ao curso de Pedagogia na FaE/UFMG. Durante a graduação pesquisei sobre as seguintes temáticas: educação escolar e ensino superior indígena; trajetórias de acadêmicos indígenas; antropologias indígenas. Durante o mestrado tenho pesquisado as temáticas: etnologia indígena; relações interétnicas; processos de territorialização; tradições de conhecimento; trajetórias familiares; oralidade e escrita. Desde 2017 atuo de maneira autônoma promovendo o ensino das temáticas indígenas em escolas da rede pública e privada, seja através da contação de histórias, brincadeiras e jogos indígenas para crianças ou de oficinas e minicursos de formação para professores. 

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Publicado

2020-05-08

Como Citar

Jardim, A. (2020). Do inusitado à subversão: A escrita acadêmica xacriabá como resistência intelectual. Opará: Etnicidades, Movimentos Sociais E Educação, 7(10), 27–39. Recuperado de https://www.revistas.uneb.br/index.php/opara/article/view/OPARA10ART2