Uma Pedagogia das Retomadas

ensinamentos e aprendizagens a partir do povo indígena Anacé

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2022.v31.n67.p248-267

Palavras-chave:

Retomadas; povo indígena Anacé; pedagogia da encantaria; pedagogia territorializada

Resumo

Os Anacé, povo indígena que ocupa tradicionalmente um território localizado a oeste da capital cearense, vem sendo, desde meados da década de 1990, impactado com as construções do Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Em contraponto, parte dos Anacé tem realizado retomadas para recuperar parcelas do território e assim garantir seus direitos de existir. Nesse contexto, com base em pesquisa bibliográfica, documental e de campo, investigamos a possibilidade de falarmos em pedagogias das retomadas, compreendendo-as como potentes espaços de aprendizagem partilhada e de construção de pessoas Anacé, o que passa pela mediação dos encantados. Conforme observado, as retomadas possibilitam acessar conhecimentos múltiplos a partir de contextos pedagógicos de formação e de aprendizagens produzidos nas práticas políticas de reaver territórios, memórias, encantados, pelo que se conectam com saberes territorializados e da encantaria.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luciana Nogueira Nóbrega, Universidade Estadual do Ceará - Uece

Doutoranda em Sociologia pela Universidade Estadual do Ceará, com bolsa do CNPq. Mestre e graduada em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Indigenista especializada da Fundação Nacional do Índio, desde 2010. Pesquisadora nas áreas de direitos dos povos indígenas, conflitos socioambientais, direitos humanos e direitos socioambientais, movimento de mulheres, democracia e América Latina. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em Etnicidade da UECE e o Observatório de Direitos Indígenas da UFC.

Lia Pinheiro Barbosa, Universidade Estadual do Ceará

Doutora em Estudos Latino-Americanos pela Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM. Professora Adjunta I da Universidade Estadual do Ceará, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), no Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE) e na Faculdade de Educação de Crateús (FAEC). Líder do Grupo de Pesquisa Pensamento Social e Epistemologias do Conhecimento na América Latina e Caribe. Pesquisadora do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), no GT Economías Feministas Emancipatorias, no GT Herencias y perspectivas del Marxismo e no GT Anticapitalismos y sociabilidades emergentes. Pesquisadora do Programa Alternativas Pedagógicas y Prospectiva Educativa en América Latina (APPeAL-UNAM). Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Educação do Campo (LECAMPO). Pesquisadora da Rede Latino-Americana de Pesquisa em Educação do Campo, Cidade e Movimentos Sociais - Rede PECC-MS. Tem experiência na área de Educação, Processos Territoriais e Movimentos Sociais Indígenas e Camponeses na América Latina. Investiga as seguintes temáticas: Pensamento Crítico Latino-Americano, Movimentos Sociais Campesinos e Indígenas, Educação do Campo, Feminismos Latino-Americanos, Epistemologias. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2. 

Referências

AIRES, M. M. P.; ARAÚJO, I. L. G. Os Anacés e a Refinaria Premium II: mobilizações étnicas e grandes projetos de desenvolvimento. Fortaleza, 2010 (mimeo).
ALARCON, D. F. A forma retomada: contribuições para o estudo das retomadas de terras, a partir do caso Tupinambá da Serra do Padeiro. RURIS – Revista do Centro de Estudos Rurais, 7 (1): 99-124, 2013.
______. O retorno dos parentes: mobilização e recuperação territorial entre os Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia. Tese de doutorado (Antropologia social). Rio de Janeiro, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2020.
AMADO, L. H. E. Vukápanavo: o despertar do povo terena para os seus direitos: movimento indígena e confronto político. Rio de Janeiro, Laced/ e-papers, 2020.
AQUINO, J. A. Processo decisório no Governo do Estado do Ceará (1995-1998): o porto e a refinaria. Dissertação de Mestrado, Sociologia, Universidade Federal do Ceará, 2000.
BARBOSA, L. P. Pedagogías sentipensantes y revolucionarias em la práxis educativo-política de los movimientos sociales de América Latina. Revista Colombiana de Educación. 2020, pp. 269-290.
BENITES, T. Rojeroky hina ha roike jevy tekohape (Rezando e lutando): o movimento histórico dos Aty Guasu dos Ava Kaiowa e dos Ava Guarani pela
recuperação de seus tekoha. Tese de doutorado (Antropologia Social). Rio de Janeiro, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.
BOLDT, C. M. S.; BARBOSA, L. P.; SALAZAR,T. C. Pedagógica de semilla en el Movimiento Zapatista: siembra y crecimiento de un sujeto coletivo político. Revista Práxis Educacional, v. 17, n. 46, p. 1-24, Jul./Set. 2021.
BRISSAC, S. G. T; NÓBREGA, L. N. Benzedeiras Anacé: a relevância dos ritos de cura na emergência étnica de um povo indígena do Ceará. Anais da Reunião Brasileira de Antropologia, 27., 1-4 ago. 2010, Belém, Pará.
FERREIRA DA SILVA, A. Idade e vida construída e vivida. Mimeo. s/d.
FREIRE, P. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
GOMES DE LIMA, H. Vestindo corpos: regimes do visível nas pinturas Anacé. Monografia. Curso de Design e Moda, Universidade Federal do Ceará, 2018.
GRAMSCI, A. La alternativa pedagógica. Caracas: PROA, 2011.
LACERDA, R. F. A. “Pedagogia Retomada”: uma contribuição das lutas emancipatórias dos povos indígenas no Brasil. Interritórios – Revista de Educação
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, v.7, n.13, 2021, p. 192-222.
LIMA, T. H. S. O conhecimento na escola indígena no Ceará: práticas de ensino diferenciado na escola indígena Direito de Aprender do Povo Anacé. Dissertação de Mestrado (Sociologia), Universidade Estadual do Ceará, 2017.
MARTINS, M. P. M. J.; NÓBREGA, L. N. Entre retomadas e autodemarcações – lutas indígenas por recursos naturais, territórios e direitos no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Jurídicos, 14 (3): 85-99, 2019.
NÓBREGA, L. N. O povo indígena Anacé e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará: desenvolvimento e resistências no contexto da barbárie por vir. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza (CE), v. 51, n. 2, p. 165-211, jul./ out. 2020.
POLLAK, M. Memória, Esquecimento e Silêncio. Estudos Históricos, 2 (3): 3-15, 1989.
SERAGUZA, L. Em tempos de fins: “reservamento”, “retomadas” e múltiplas formas kaiowa e guarani de composição. Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 5 (10): 223-240, 2018.
SOUZA, R. M. Tabas, roças e lugares de encanto: construção e reconstrução Anacé em Matões, Caucaia, Ceará. Monografia. Bacharelado em Ciências Sociais. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2019a.
SOUZA, J. M. A. Os Pataxó Hãhãhãi e as Narrativas de Luta por Terra e Parentes, no sul da Bahia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social da Universidade de Brasília. Brasília, 2019b.
TAVARES, C. N. M. Tradições políticas de resistência indígena: A organização dos povos do Ceará (Brasil) e de Oaxaca (México) diante de projetos
de desenvolvimento em seus territórios. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas da Universidade de Brasília. Brasília, 2015.
TÓFOLI, A. L. F. Disputas Territoriais entre o Complexo Industrial e Portuário do Pécem e as populações tradicionais. Anais da 28ª Reunião Brasileira de Antropologia. São Paulo: ABA, 2012.
______. As retomadas de terras na dinâmica territorial do povo indígena Tapeba: mobilização étnica e apropriação espacial. Dissertação de Mestrado (Sociologia), Universidade Federal do Ceará, 2010.

Arquivos adicionais

Publicado

2022-08-16

Como Citar

NÓBREGA, L. N.; BARBOSA, L. P. Uma Pedagogia das Retomadas : ensinamentos e aprendizagens a partir do povo indígena Anacé. Revista da FAEEBA - Educação e Contemporaneidade, [S. l.], v. 31, n. 67, p. 248–267, 2022. DOI: 10.21879/faeeba2358-0194.2022.v31.n67.p248-267. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/faeeba/article/view/14018. Acesso em: 28 mar. 2024.