REDE DE APOIO FAMILIAR A MULHERES EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO

Autores

  • Iris Ribeiro Cruz Uneb
  • Matheus Mendes Reis Uneb
  • Naila Carolaine Souza Silva Afirma/UNEB
  • Alcilene Coutinho Ramos Assunção PIBIC/UFBA
  • Milca Ramaiane da Silva Carvalho Uneb

Palavras-chave:

Violência Conjugal, Mulher, Apoio Familiar

Resumo

Introdução: A violência conjugal é uma realidade que afeta milhares de mulheres mundialmente, sendo fenômeno complexo e devastador, que causa danos físicos, morais, psicológicos, emocionais e sociais às pessoas envolvidas. Estudo desenvolvido em países sul-asiáticos indicam que o contexto social permeado por normas conservadoras e patriarcais, associado a altos índices de pobreza extrema e analfabetismo colaboram para que 50% das mulheres vivenciem a violência conjugal (Carneiro, 2021). No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 30% das mulheres sofrem algum tipo de violência ao longo da vida, a maioria, por meio da prática das expressões física e sexual pelo parceiro íntimo. O mesmo estudo alerta ainda que os parceiros ou ex-parceiros íntimos são os autores da violência em 38% dos feminicídios no país (Barbosa, 2021). Apesar da violência conjugal representar um desrespeito aos direitos humanos, muitas mulheres permanecem durante anos nesta condição. Estudos indicam que a permanência em um contexto de violência relaciona-se a influência das questões de gênero, envolvimento com álcool e/ou outras drogas, vulnerabilidade social, dependência econômica, esperança de mudança na relação e a falta de apoio na rede de atenção (Carvalho, 2021; Cunha, 2008; Dahlberg, 2007). No que se refere a rede de apoio para o enfrentamento da violência, considera-se duas vertentes essenciais, a saber: a rede institucional, formada pelos serviços e instituições, e a rede social, integrada por amigos e familiares (Carneiro, 2021). No que tange ao suporte promovido pela família no processo de enfrentamento da violência conjugal, a literatura aponta que é essencial para o fortalecimento da mulher e, inclusive, quando ausente, determinante para permanência no seio de uma relação conjugal norteada pela violência. Nesse contexto, a família é considerada uma unidade de apoio, um espaço de acolhimento e proteção que desempenha papel importante no apoio e suporte para o enfrentamento do agravo (Souza, 2021). Objetivo: identificar o posicionamento da família da mulher diante a violência conjugal.  Metodologia: Pesquisa de abordagem qualitativa, recorte do projeto “Tecnologia Social de Cuidado a Mulheres no Contexto de Violência Conjugal”. O cenário do estudo foi a Ronda Maria da Penha (RMP) dos municípios de Lauro de Freitas e Senhor do Bonfim, localizados na Bahia, Brasil. Colaboraram com a pesquisa 22 (vinte e duas) mulheres com história de violência conjugal e assistidas no serviço acima citado por meio da medida protetiva de urgência. Os dados foram coletados através de entrevista e quatro grupos focais, ocorridos com apoio de formulário e gravador de voz. O material gravado foi transcrito na integra no programa Microsoft Word e sistematizado a partir da análise temática proposta por Bardin. Esta representa técnica amplamente utilizada na análise de dados qualitativos, sendo organizada em três etapas, a saber: pré-análise, exploração do material e codificação e a categorização do material e interpretação dos resultados (BARDIN, 2011). Visando garantir o anonimato das colaboradoras, a identificação identitária (nome) das mulheres foi substituída pelas iniciais do nome do município, seguida pela ordem das entrevistas. O projeto respeitou todos os aspectos éticos constantes na resolução 466/2012 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Bahia, sob parecer circunstanciado nº 4.933.325. Resultados: As participantes da pesquisa tinham de 20 a 59 anos de idade. A maioria se autodeclarou parda, com 2º grau completo, parcialmente dependente, com residência própria e renda inferior a um salário mínimo. Os relatos das mulheres em situação de violência conjugal permitiram compreender que o posicionamento da família diante a violência conjugal está organizado em duas categorias temáticas: O apoio no processo de enfrentamento da violência conjugal e O não apoio no processo de enfrentamento da violência conjugal em decorrência da influência das concepções de gênero. O apoio no processo de enfrentamento da violência conjugal ocorreu por meio da adoção de práticas para proteger a mulher dos episódios de violência conjugal; a cobrança do rompimento do vínculo conjugal, a adoção de ações para o fortalecimento da mulher e o apoio na busca pelos serviços da rede. No vivido das mulheres, o não apoio relacionou-se às concepções de gênero que naturalizam a violência no cotidiano conjugal, a descredibilização do relato feminino de violência e a julgamentos sobre o comportamento e/ou decisões da mulher no âmbito conjugal. Conclusão: Os resultados do estudo sinalizam assimetrias no posicionamento da família diante a ciência da vivência de violência conjugal pela mulher. Compreendendo que o apoio a ser promovido por esta rede é essencial para a saída da violência, o conhecimento de que algumas mulheres não vivenciam apoio nesta instituição enaltece a importância da atuação das outras instâncias da rede de apoio, a exemplo, amigos e equipamentos da rede de atenção. Para além, ao sinalizar que o não apoio relaciona-se a concepções de gênero que naturalizam à violência, vislumbra-se que a família de mulheres em situação de violência é também público que demanda por ações com vista a desnaturalizar a violência no cotidiano conjugal.

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Referências

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo, 2011

BARBOSA, T. P. et al. A Psicologia na rede de atendimento à mulher em situação de violência conjugal: Uma revisão sistemática na América Latina. Aletheia, Canoas, v. 54, n. 1, jan./jun. 2021. DOI 10.29327/226091.54.1-14

CARVALHO, M. R. et al. Elementos de vulnerabilidade para permanência na violência conjugal: discurso de mulheres que consomem álcool/drogas.Texto & contexto enfermagem, v. 31, p. e20180516, 2022. DOI-10.1590/1980-265X-TCE-2018-0516pt.

CUNHA, T. R. A. VIOLÊNCIA CONJUGAL: OS RICOS TAMBÉM BATEM CONJUGAL/VIOLENCE: THE RICH ALSO FIGHTING. UEPG Humanit. Sci, Ponta Grossa, v.1, n.16, p.167-176, jun. 2008

CARNEIRO, J. B. et al. Condições que interferem no cuidado às mulheres em situação de violência conjugal/Condiciones que interfieren en la atención de mujeres en situación de violencia conjugal, Esc. Anna. Nery, 2021.

CARNEIRO, J. B. et al. Revelando desfechos do cuidado com a mulher em situação de violência conjugal/Revealing outcomes of care for women in situations of domestic violence Revelación de resultados del cuidado de mujeres en situación de violencia conyugal, Acta Paul Enferm. 2021.

DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública /Violence: a global public health problem. Ciência & Saúde Coletiva, 2007.

SOUZA, M. A. R. et al. Percepção das mulheres em situação de violência sobre o apoio formal: Scoping review. Esc. Anna. Nery, v. 25, n. 2, 2021. DOI 10.1590/2177-9465-EAN-2020-0087

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Publicado

2024-04-29

Como Citar

Ribeiro Cruz, I., Mendes Reis, M., Souza Silva, N. C., Coutinho Ramos Assunção, A., & da Silva Carvalho , M. R. (2024). REDE DE APOIO FAMILIAR A MULHERES EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA PELO PARCEIRO ÍNTIMO. Encontro De Discentes Pesquisadores E Extensionistas, 2(1). Recuperado de https://www.revistas.uneb.br/index.php/edpe/article/view/19189