A PERSPECTIVAS E USOS DO PRESERVATIVO FEMININO/INTERNO NA ATUALIDADE: CONTRACEPÇÃO E PREVENÇÃO DE IST

Autores/as

  • Jamile Santos UNEB
  • Fernanda Souza Silva Universidade do Estado da Bahia
  • Naila Carolaine Souza Silva Universidade do Estado da Bahia
  • Cleuma Sueli Santos Suto Universidade do Estado da Bahia

Palabras clave:

Preservativo feminino, Prevenção, Preservativo interno, Autonomia feminina

Resumen

Introdução: O preservativo feminino foi desenvolvido na década de 1980 na Dinamarca e apresentava-se como um método que facilitaria a negociação com os parceiros, pois as mulheres teriam controle sobre o seu uso (Kalckmann, 2013). A sua comercialização ocorreu em 1993 nos Estados Unidos, porém no Brasil, só obteve licença para ser comercializado no final dos anos 90, após um estudo que avaliou a sua aceitabilidade entre mulheres brasileiras. De modo a possibilitar, ainda nessa década, que o Programa Nacional de DST/Aids decidisse investir em sua dispensação, como medida para conter a propagação da epidemia junto às mulheres (Barbosa et al., 2007). No entanto, o preservativo masculino continua sendo amplamente distribuído e o preservativo feminino ainda é racionado e invisibilizado nos serviços de saúde, ficando a mulher privada do acesso ao método que poderia lhe dar autonomia e decisão em suas práticas sexuais. Nesse sentido, em estudo realizado na região metropolitana de São Paulo, os resultados evidenciaram que tanto o tipo de serviço de dispensação do insumo quanto a frequência mensal de relações sexuais interferiram na continuidade de uso; e, é fundamental a criação de espaços onde elas possam ter acesso adequado a orientações e aos insumos (Kalckmann; Farias; Carvalheiro, 2009). A Agência de Notícias da AIDS divulgou que a UNAIDS, em 2022, passou a adotar uma nova nomenclatura para esse insumo, isso porque as camisinhas ditas “femininas” podem ser usadas por pessoas que têm vagina (homens transgênero, mulheres cisgênero, pessoas ovariadas não-bináries e de gênero fluído). O preservativo interno é considerado um contraceptivo de barreira por impedir a entrada dos espermatozoides no útero, além de um importante método para se evitar Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), principalmente quando o parceiro não deseja utilizar uma proteção, porém, a desigualdade dos gêneros e a falta de divulgação dessa forma de proteção são entraves à adoção deste método de prevenção (Teixeira, 2023). Em estudo realizado pela Fiocruz sobre a citotoxicidade dos preservativos, o feminino foi classificado como moderadamente citotóxico (grau 3) e o masculino não citotóxico (grau 0), os achados geram preocupação, porém não tornam o seu uso inadequado, apenas indicam a necessidade estudos adicionais sobre gestão da qualidade (Schettini, 2023). Frente ao exposto, é imprescindível que as ações dos serviços de saúde invistam em intervenções voltadas à educação para a saúde, principalmente entre a população de jovens, para aumentar a distribuição de preservativos e o acesso à informação. O projeto o “Sexualidade e HIV: prevenção e uso do preservativo feminino/interno vinculado à Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no Campus VII através do Colegiado de Enfermagem, desenvolve ações em escolas públicas no Território do Piemonte Norte do Itapicuru buscando contribuir com a divulgação e acesso ao preservativo interno. Objetivo: Descrever as perspectivas e usos do preservativo feminino publicados recentemente na literatura. Metodologia: Trata-se de revisão narrativa da literatura, que busca apresentar estudos sobre um determinado tema específico, estimulando maior alcance e atualização do conhecimento; esse tipo de estudo é considerado proeminente por facultar o levantamento de produções em que se procura afinidades e/ou desacordos entre os estudos encontrados (TOLEDO; RODRIGUES, 2017), além de possibilitar a análise crítica pessoal do autor. Foi realizada na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), na biblioteca Scientific Electronic Library Online (SciELO) e na plataforma Google Scholar, por meio dos seguintes descritores/termos ““Preservativo feminino OR Condom feminino OR Preservativo interno” AND “Prevenção de IST OR Prevenção de gravidez””. O recorte temporal dos anos de 2022-2023 buscou a atualização das informações sobre a temática. A busca das publicações ocorreu em novembro de 2023, por três autoras. Para a seleção dos estudos, foram estabelecidos os critérios de inclusão: artigos ou trabalhos de conclusão de curso (TCC) obtidos na íntegra, nos idiomas português-brasileiro, inglês ou espanhol. Foram excluídos os estudos repetidos, os de revisão e também, aqueles que não se adequaram ao tema. Assim, foram encontrados nove estudos e destes, sete seguiram para leitura na íntegra. Para sistematização e análise, foi criado um instrumento para organizar as publicações, com as seguintes informações: título, autoria, ano de publicação, periódico, tipo de estudo e principais resultados. Os estudos foram lidos e analisados com base na relevância científica e social e na atualidade/atualização sobre a temática. Resultados: A partir da leitura dos títulos detectou-se a duplicidade de dois estudos, assim sete estudos foram lidos na íntegra, onde dois foram coletados na Lilacs, dois foram na SciELO e o quantitativo de cinco artigos/TCC na plataforma Google Scholar. Dentre as sete publicações que compuseram a amostra, identificou-se que quatro artigos incluídos na presente revisão foram publicados em revistas nacionais e dois em revistas internacionais, vinculadas às instituições de saúde; e, um TCC estava disponível em repositório de biblioteca nacional. No que concerne ao ano de publicação, o ano de 2022 apresentou a maior concentração de estudos publicados, ou seja, foram cinco artigos publicados, sendo seguido o ano de 2023, no qual houve dois trabalhos publicados. Por sua vez, reconheceu-se a abordagem quantitativa, como principal método utilizado, apenas três estudos utilizaram o método qualitativo. De acordo com análise dos estudos, a literatura atual aponta o desconhecimento da forma de uso do preservativo feminino, sendo observado em dois estudos, onde em um deles é relatado o estranhamento dos participantes com o seu formato, associando a algo doloroso e desconfortável (Santos, 2022). Além disso, ainda é persistente o conhecimento errôneo de quem ao utilizar ambos preservativos há o aumento de sua eficácia. Quando comparado o conhecimento e uso do preservativo feminino com o masculino o resultado é extremamente discrepante, sendo o preservativo masculino o mais utilizado. Em um dos estudos é ressaltado que os participantes apresentam conhecimento em relação a eficácia da utilização dos preservativos na proteção contra IST e gravidez, porém outro autor traz que o preservativo externo é o método preferido para proteção contra IST na população TGD  ( Figueiredo, 2023). Apenas um estudo que aborda sobre os cuidados integrais à população trans, apresenta a utilização do preservativo feminino na prevenção de IST, auxiliando na proteção da vulva (Fonseca, 2022). Analisou-se de maneira significativa que todos os estudos apresentaram uma adaptação na terminologia, sendo que os autores, consistentemente, optaram pelo uso do termo "preservativo interno". Uma das principais novidades sobre a disseminação do uso do preservativo foi discutida em um estudo que abordou a estratégia de empregar modelos pélvicos para promover e demonstrar a correta utilização do preservativo (Santos, 2022). A linguagem inclusiva também foi destacada como uma nova estratégia crucial, pois evita suposições sobre a identidade de gênero e os órgãos sexuais das pessoas (Figueiredo, 2023). Isso se revela essencial para a coleta eficaz de uma história clínica, e, por conseguinte, uma história sexual completa. Essas estratégias são significativamente importantes para a adesão a esse método e para a disseminação da utilização correta entre os diversos corpos. Conclusão: As perspectivas e usos do preservativo feminino, em publicações recentes, apontam para necessidades de apropriação dos profissionais para aplicabilidade da nova nomenclatura, proposta pela OMS, na rotina dos serviços de saúde; que mesmo passado quatro décadas da sua disseminação e uso, as/os usuários dessa tecnologia ainda demonstram desconhecimento e estranhamento; e, os profissionais de saúde carecem de aproximação e incorporação de novas metodologias e linguagens para aproximar o preservativo interno da população em geral. 

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Citas

Agência de Notícias da AIDS. 2022. Disponível em: https://agenciaaids.com.br/

BARBOSA, R. M.; KALCKMANN, S.; BERQUÓ, E.; STEIN, Z. A. Notes on the female condom: experiences in Brazil. International Journal of STD & AIDS, v. 18, n. 4, p. 261–266, 2007. Disponível em: http://std.sagepub.com/lookup/doi/10.1258/095646207780658980.

CALDERÓN, C, F. et al. Conocimiento y mitos del preservativo interno en población de 15 a 25 años, Región Metropolitana. Rev. chil. obstet. ginecol. (En línea), p. 164–170, 2022.

CALDERÓN, C, F. et al. Conocimiento y uso de anticonceptivos en relación con la diversidad sexual, Universidad Andrés Bello, 2022. Revista chilena de obstetricia y ginecología, v. 88, n. 2, p. 101–109, 1 abr. 2023.

FIGUEIREDO, V. G. DE. Contraceção em Pessoas Trans. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10400.6/13486>. Acesso em: 19 nov. 2023.

FONSECA, L. A. D. A. Promoção da educação em saúde sexual com ênfase nos mecanismos de ação dos contraceptivos hormonais e no uso nocivo do contraceptivo de emergência. 30 jun. 2022. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/45275

HENRIQUE PIRES OKANO, S. Cuidados integrais à população trans: o que cabe ao atendimento na atenção primária à saúde (APS)?. BEPA. Boletim Epidemiológico Paulista, São Paulo, v. 19, p. 1–40, 2022. DOI: 10.57148/bepa.2022.v.19.37729. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/BEPA182/article/view/37729. Acesso em: 19 nov. 2023.

Kalckmann, S.; Farias. N.; Carvalheiro, J. R. Avaliação da continuidade de uso do preservativo feminino em usuárias do Sistema Único de Saúde em unidades da região metropolitana de São Paulo, Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2009; 12(2): 132-43.

MATOS, R. S. Uma análise sobre o conhecimento dos jovens sobre a prevenção de IST e promoção da saúde. Rev. Saúde.com, v. 18, n. 4, 2022, p. 3037-3048. Disponível em: (PDF) Uma análise sobre o conhecimento dos jovens sobre a prevenção de IST e promoção da saúde (researchgate.net). Acesso em: 16 nov. 2023.

OKANO, S. H. P. Cuidados integrais à população trans: o que cabe ao atendimento na atenção primária à saúde (APS)?. BEPA. Boletim Epidemiológico Paulista, São Paulo, v. 19, p. 1–40, 2022. DOI: 10.57148/bepa.2022.v.19.37729. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/BEPA182/article/view/37729 . Acesso em: 16 nov. 2023.

SANTOS, Bruna. INTERVENÇÕES DE PROMOÇÃO DE SAÚDE NA PREVENÇÃO A INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA. ResearchGate (Rede social para integração entre cientistas e pesquisadores). 2022.

Schettini, V. H.; Quidorne, C.; Santos, C; Conde, T.; Torralba, L. Avaliação de citotoxicidade de preservativo pelo método de difusão em ágar e inserção do residente em atividades de gestão da qualidade. Repositório Institucional da FIOCRUZ, 2023. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/60564

SILVA MATOS, R.; DE JESUS GOMES, F.; FERNANDES NEVES, R.; LIMA MAGALHÃES, D.; ARAÚJO LIMA, A. L.; JOSUÉ DE OLIVEIRA JUNIOR, E.; SANTOS DA SILVA, E.; LEAL DE SOUZA, C. Uma análise sobre o conhecimento dos jovens sobre a prevenção de IST e promoção da saúde. Revista Saúde.com, [S. l.], v. 18, n. 4, 2022. DOI: 10.22481/rsc.v18i4.11386. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/rsc/article/view/11386. Acesso em: 19 nov. 2023.

TEIXEIRA, P. M. G. The public policy of distribution of female condoms: A review systematics of literature. 2023, e31244. Disponível em: https://doi.org/10.53612/recisatec.v3i1.244

TOLEDO, J. A.; RODRIGUES, M. C. Teoria da mente em adultos: uma revisão narrativa da literatura. Bol. - Acad. Paul. Psicol., São Paulo, v. 37, n. 92, p. 139-156, jan. 2017. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v37n92/v37n92a11.pdf

Publicado

2024-04-30

Cómo citar

Santos, J., Souza Silva , F., Carolaine Souza Silva , N., & Sueli Santos Suto, C. (2024). A PERSPECTIVAS E USOS DO PRESERVATIVO FEMININO/INTERNO NA ATUALIDADE: CONTRACEPÇÃO E PREVENÇÃO DE IST. Encontro De Discentes Pesquisadores E Extensionistas, 2(1). Recuperado a partir de https://www.revistas.uneb.br/index.php/edpe/article/view/19145