Ser babá do outro lado do oceano: cuidar dos filhos de outra família, outra língua, outra terra

Autores

  • Carolina Chagas Kondratiuk Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis
  • Marcos Garcia Neira Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo http://orcid.org/0000-0003-1054-8224

DOI:

https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2018.v3.n8.p710

Palavras-chave:

Corpo, Educação Informal, Migração, História de Vida.

Resumo

O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que objetiva elucidar os processos educativos informais envolvidos no cuidado profissional doméstico de crianças em contextos migratórios, como estes são vivenciados no plano da corporeidade. Dentro do referencial teórico-metodológico da pesquisa biográfica em educação, constrói-se a partir de narrativas de vida de mulheres brasileiras que atuam ou atuaram como babás na França. Os corpos dessas mulheres, sensíveis à experiência de si, do outro e do mundo, carregam marcas da própria trajetória enquanto se ocupam dos corpos infantis sob seus cuidados. Assim sendo, seus relatos, permeados pela condição corporal, oferecem elementos valiosos para a compreensão de facetas até então inexploradas do cuidado profissional de crianças em ambiente doméstico, quando este é desempenhado num contexto de imersão em diferenças linguísticas, econômicas e socioculturais. A análise, desenvolvida a partir de uma perspectiva hermenêutica, lança luz sobre dinâmicas de aprendizagem implicadas no trabalho de cuidado doméstico de crianças nas quais o corpo é, ao mesmo tempo, receptor e vetor. Por fim, a escuta à sua voz abriu, para as colaboradoras, um espaço de formação de si, um convite a atribuir sentidos à existência e fortalecer a própria atuação no mundo.

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Biografia do Autor

Carolina Chagas Kondratiuk, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis

Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris 8, em convênio internacional de dupla titulação, possui Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (2006) e Mestrado em Educação pela mesma instituição (2012). Atualmente, tem se dedicado à pesquisa biográfica com educadores da infância, numa perspectiva que compreende o corpo como lugar de inscrição cultural e construção identitária.

Marcos Garcia Neira, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

Licenciado em Educação Física e Pedagogia, Mestre e Doutor em Educação com Pós-doutorado em Educação Física e Currículo e Livre-docência em Metodologia do Ensino de Educação Física. É Professor Titular da Faculdade de Educação da USP, coordenador do Grupo de Pesquisas em Educação Física escolar e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

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Publicado

2018-09-14

Como Citar

KONDRATIUK, C. C.; NEIRA, M. G. Ser babá do outro lado do oceano: cuidar dos filhos de outra família, outra língua, outra terra. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, [S. l.], v. 3, n. 8, p. 686–710, 2018. DOI: 10.31892/rbpab2525-426X.2018.v3.n8.p710. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/4166. Acesso em: 19 abr. 2024.