FICÇÃO PARA UM CORPO DE CIENTISTA: MARIE CURIE, A INVENÇÃO DE SI E A NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA

Autores

  • Paloma Nascimento dos Santos
  • Rochele de Quadros Loguercio

DOI:

https://doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2016.v1.n3.p447-466

Palavras-chave:

Marie Curie, Ciência, Autobiografia, Gênero

Resumo

O que nos conta e como se conta uma narrativa de vida nas ciências? E quando quem conta é uma mulher? Marie Curie, física polonesa, criadora do campo da radioatividade e ganhadora de dois prêmios Nobel foi alçada à posição de mito, tendo sua trajetória sido narrada como “exemplo” para as mulheres, nas ciências e fora delas. Curie escreveu, sob encomenda, uma narrativa intitulada Notas autobiográficas, que se encontra como apêndice em um texto também biográfico, escrito pela própria Marie, por ocasião da morte de seu marido. Entendendo que as práticas discursivas das autonarrativas não são autônomas, mas estão incluídas em procedimentos normativos (jurídico, médico, educativo, de gênero) e questionando-se sobre a relação entre as narrativas e as redes de poder articuladas em sua construção, este artigo pretende, a partir das notas autobiográficas de uma mulher considerada um mito, problematizar: (i) as narrativas autobiográficas como invenção de si; (ii) a história de vida de Marie Curie como uma mulher de ciência e a invenção do mito de mãe, esposa e cientista; e (iii) o gênero como elemento central na construção de uma ficção de mulher nas ciências.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto. A aventura (auto)biográfica: teoria e empiria. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

COSTA, Luciano Bedin da. Biografema como estratégia biográfica: escrever uma vida com Nietzsche, Deleuze, Barthes e Henry Miller. 2010. 180 p. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

CURIE, Marie. Autobiographical notes. In: _______. Pierre Curie. New York: Macmillian Company, 1923. p. 68-108.

DES JARDINS, Julie. American memories of Madame Curie: prisms on the gendered culture of science. In: CHIU, Mei-Hung; GILMER, Penny; TREAGUST, David. (Orgs.). Treagust Celebrating the 100th Anniversary of Madame Marie Sklodowska Curie’s Nobel Prize in Chemistry. New York: SensePublishers, 2011. p. 59-85.

DES JARDIN, Julie. The Madame Curie complex: the hidden history of women in science. New York: Feminist Press, 2010

FISCHER, Beatriz Daudt. Foucault e histórias de vida: aproximações e que tais… In: ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto. (Org.). A aventura (auto)biográfica: teoria e empiria. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 143-161.

FORTUNATI, Vita. Mirror shards: conflicting images between Marie Curie’s autobiography and her biographies. In: GOVONI, Paola; FRANCESCHI, Zelda Alice (Eds.). Writing about lives in science: (auto)biography, gender, and genre. Göttingen, Alemanha: V&R Unipress, 2014. p. 141-160.

GOBBI, Maria Cristina. Método biográfico. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p. 84-97.

GOLDSMITH, Barbara. Gênio obsessivo: o mundo de Marie Curie. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

HALL, Linley Erin. Who’s afraid of Marie Curie?: the challenges facing women in science and technology. California: Seal Press: 2007.

HENNING, Paula. Resistência e criação de uma gaia ciência em tempos líquidos. Ciência & Educação, v. 18, n. 2, p. 487-502, 2012.

KELLER, Evelyn Fox. Feminism and science. Signs, v. 7, n. 3, p. 589-602, 1982.

KELLER, Evelyn Fox. Gender and Science: an update. In: WYER, Mary et al. Women, science and technology: a reader in feminist science studies. London: Routledge, 2001. p. 128-137.

KELLER, Evelyn Fox. Gender and science: origin, history and politics. Osiris, v. 10, p. 26-38, 1995.

KELLER, Evelyn Fox. Qual foi o impacto do feminismo na ciência? Cadernos Pagu, n. 27, p. 13-34, 2006.

KOHLSTEDT, Sally Gregory; LONGINO, Helen. The women, gender, and science question: what do research on women in science and research on gender and science have to do with each other? Osiris, v. 12, p. 3-15, 1997.

LIMA, Betina S. Teto de vidro ou labirinto de cristal? As margens femininas das ciências. 2008. 133f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Brasília, Brasília, 2008.

MELONEY, Marie “Missy”. Introduction. In: CURIE, Marie. Pierre Curie. New York: Macmillian Company, 1923. p. 11-16.

PUGLIESE, Gabriel. Um sobrevôo no “Caso Marie Curie”: um experimento de antropologia, gênero e ciência. Revista de Antropologia, v. 50, n. 1, p. 347-385, 2007.

QUINN, Susan. Marie Curie: uma vida. São Paulo: Scipione, 1997.

REVEL, Judith. Uma subjetividade que jamais cessa de inventar-se a si própria. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, n. 203, p. 20-31, 2006. Disponível em: <http://www.ihuonline.unisinos.br>. Acesso em: 28 ago. 2016.

ROHDEN, F. A construção da diferença sexual na medicina. Cadernos de Saúde Pública, n. 19, v. 2, p. 201-212, 2003.

SCHIEBINGER, L. Skeletons in the closet: the first illustrations of the female skeleton. Berkeley: University of California Press, 1987.

SCHIEBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? São Paulo: EDUSC, 2001.

SCHWARTZ, Juliana; CASAGRANDE, Lindamir Salete; LESZCZYNSKI, Sonia Ana Charchut; CARVALHO, Marilia Gomes de. Mulheres na informática: quais foram as pioneiras? Cadernos Pagu, n. 27, p. 255-278, 2006.

SEDEÑO, Eulalia Pérez. Ciência, valores e guerra na perspectiva CTS. In: ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria; BELTRAN, Maria Helena Roxo. (Orgs.). Escrevendo a história da ciência: tendências, propostas e discussões historiográficas. São Paulo: Livraria da Física; Educ; Fapesp, 2004. p. 201-229.

SILVA, Fabiane Ferreira; RIBEIRO, Paula Regina Costa. Trajetórias de mulheres na ciência: “ser cientista” e “ser mulher”. Ciência & Educação, n. 2, v. 20, p. 449-466, 2014.

TOSI, Lucía. Mulher e ciência: a revolução científica, a caça às bruxas e a ciência moderna. Cadernos Pagu, v. 10, p. 369-397, 1998.

VIART, Dominique, Dime quién te obsesiona: paradojas de lo autobiográfico. Cuadernos hispanoamericanos, n. 621, p. 63-74, 2002.

WIRTÉN, Eva Hemmungs. Making Marie Curie: intellectual property and celebrity culture in an age of information. Chicago: The University of Chicago Press, 2015.

Downloads

Publicado

2016-12-13

Como Citar

SANTOS, P. N. dos; LOGUERCIO, R. de Q. FICÇÃO PARA UM CORPO DE CIENTISTA: MARIE CURIE, A INVENÇÃO DE SI E A NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, [S. l.], v. 1, n. 3, p. 447–466, 2016. DOI: 10.31892/rbpab2525-426X.2016.v1.n3.p447-466. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/2997. Acesso em: 18 abr. 2024.